Novo Germinal: Gaza, Ano Zero: as raízes do holocausto palestino. Entrevista com Bernardo Kocher e Soraia de Carvalho

O programa Segunda Opinião está de volta nesta segunda-feira, 25/03, a partir das 19h.

Para esta retomada, trazemos o professor da UFF Bernardo Kocher para apresentar seu texto “Gaza ano zero – as origens do holocausto Palestino”. Para contribuir com o tema, convidamos a professora Soraia de Carvalho, Coordenadora do Núcleo de Documentação de Movimentos Sociais da UFPE – NUDOC e integrante do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino em Pernambuco.

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60 anos do golpe militar e a afronta da extrema-direita no Brasil

Eduardo Stotz
em Encontraponto

 

 

Em 31 de março próximo completar-se-ão 60 anos desde que um golpe militar derrubou o governo burguês reformista de João Goulart e instituiu uma ditadura aberta exercida pelo Alto Comando das Forças Armadas.

Para o diplomata e ministro das relações exteriores da ditadura militar, Vasco Leitão da Cunha, ao contrário da pretensa revolução que os golpistas afirmavam instaurar, o que se pôs em marcha dos quartéis para as ruas teria sido uma contrarrevolução preventiva. Porque se tratava de bloquear a emergência de uma “república sindicalista”, um passo decisivo para o avanço da “subversão” na América Latina.

Mas nada havia de revolucionário no governo Goulart. O problema era a radicalização das lutas dos trabalhadores pela melhoria dos salários e das suas condições de vida e pelo fim do latifúndio no Brasil, impulso que o presidente tentava canalizar para suas reformas de base. Impedir esse avanço e destruir o “esquema sindical-parlamentar” de Goulart foi a razão do golpe que, no final, contou com a unanimidade das classes dominantes.

Na Apresentação do Relatório da Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis, publicado pelo coletivo em 2018 [1], escrevemos:

Qual o sentido de se fazer uma narrativa de fatos e processos ocorridos há mais de 50 anos numa cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, como Petrópolis? De imediato podemos apontar o problema da permanente “intervenção militar”, ou para ser mais exato, da tutela militar da democracia no Brasil desde 1985, quando o Alto Comando das Forças Armadas transferiu o exercício do poder aos civis. Mais grave é, porém, o apoio político de massa à emergência e vitória de candidaturas de extrema-direita no presente ano eleitoral, oriundas do meio militar. Em outros termos, nossa resposta à questão proposta é: porque o passado ainda não é o capítulo de um livro cujas páginas possam ser viradas.

Quatro anos depois, em novembro de 2022, a ultradireita sofreu um revés eleitoral, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro. Nem por isso deixou de tentar golpear o novo governo de Lula, em 8 de janeiro de 2023.

A tomada da Praça dos Três Poderes em Brasília por uma violenta massa bolsonarista seria o pretexto para uma intervenção das Forças Armadas para evitar o caos político. O insucesso da tentativa em forçar Lula a aplicar a Lei de Garantia e Ordem na capital federal em 8 de janeiro e, portanto, do prosseguimento do ato golpista sob o aparente manto da legalidade, teve como razão o fato de que burguesia brasileira e o governo dos EUA opuseram-se ao golpe. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 2]

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro

A pretensa superioridade tecnológica e democrática de Israel foi viabilizada pela inserção mais que privilegiada da economia sionista na economia mundial

 

Na Palestina o fim da 1a. Intifada (1987-1993) marcou o início do “ajuste” local com a correlação de forças delineada no final da década de setenta, incorporando a agenda do islã político no interior da sua vida social; esta corrente político-religiosa diferia das forças já existentes por retomar uma visão belicosa para a solução do problema palestino, além da inspiração da religião como inspiração na condução da ação política.

O fim da URSS (1989) também contribuiu para criar um vazio de opções para a situação local, já que o encerramento da bipolaridade das superpotências também pôs fim à “Guerra Fria Árabe”, entre Estados adeptos do pan-arabismo e as “monarquias”. No novo contexto surgido no início da década de 1990, a primeira projeção para a situação palestina era de que o problema foi causado pela sua imersão no interior das tensões da bipolaridade, e, com o fim desta, tornou-se consenso a avaliação de que a paz seria finalmente possível.  Mas esta teoria não logrou êxito na busca da solução através da implementação da fórmula dos “dois Estados”, como ficou claro na fracassada tentativa de encaminhar o problema em negociações conduzidas pela Organização da Libertação da Palestina para a implementação dos Acordos de Oslo, no início dos anos 1990. leia mais

Fatos & Crítica 44: O outubro palestino

 

 Notas sobre os quatro meses da guerra Israel-Palestina

 

Ao iniciar essas notas, Israel intensifica bombardeios sobre Rafah, cidade ao extremo sul da faixa de Gaza.  Mais de 50 anos de ocupação e 10 anos de bloqueio tornaram insuportável a vida de 2,1 milhões de palestinos que vivem dentro da Faixa de Gaza que hoje é uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, com mais de 5.000 habitantes por quilômetro quadrado. A Faixa de Gaza é menor que cidade de Magé/RJ, mas abriga 8,5 vezes mais pessoas[1].

Em 07 de outubro de 2023 o cerco aos muros da fronteira fortificada e militarizada imposta pelo Estado de Israel à faixa de Gaza foi rompido por combatentes palestinos liderados pelo Hamas[2]. A ação causou cerca de 1.200 mortes e 130 sequestros da população israelense, entre civis e militares, e ganhou destaque na grande mídia, preparando a chamada “opinião pública” para a reação de Israel enquanto “país agredido”, o que viria a acontecer em seguida. Nessas circunstâncias, o retrato do dia 7 de outubro serviu para o Estado de Israel pousar de vítima. Sob o argumento da autodefesa e a perseguição aos “terroristas” do Hamas vemos nesses dias ataques brutais e indiscriminados à população palestina. Até este momento, quase 29 mil palestinos foram mortos, sendo que 70% são mulheres e crianças, contra cerca de 3 mil israelenses, na maior parte militares. Israel conta com um dos maiores poderios bélicos e militares do mundo: são 173 mil militares da ativa e 465 mil na reserva, já mobilizados, contra 20 a 25 mil integrantes das brigadas do Hamas[3].

Inicialmente, podemos ressaltar alguns aspectos latentes desse conflito: do lado palestino, a rebelião armada da Faixa de Gaza foi como uma explosão de uma panela de pressão em reação à tirania sistemática com que o Estado de Israel vem submetendo há décadas a população palestina, e avançando os seus assentamentos sobre o território palestino, além de prisões em massa, inclusive de crianças, e um cerco econômico de meios básicos de vida. leia mais

A vantagem chinesa e o novo ataque do capital contra os trabalhadores na fabricação de Veículos Elétricos

Por Eduardo Stotz em Encontraponto  – 20/01/2024

 


A luta pelo contrato coletivo e a sindicalização dos trabalhadores no sul dos Estados Unidos, onde se concentra a fabricação de veículos com motor elétrico (VE), constitui a maior desafio a ser enfrentado pela United Auto Workers (UAW). Foi o que disse o seu presidente, Shawn Fain, durante a longa greve contra as 3 grandes da indústria automobilística, no final de 2023. Na recente paralisação contra a Tesla na Suécia, o desafio foi colocado no “imediatamente” e não no longo horizonte temporal de quatro anos, como encaminhado pelo dirigente sindical.

Na realidade, o problema está, no momento, situado em escala internacional, nos países onde se concentra o capital da Tesla na produção de veículos de motor elétrico, a saber, nos Estados Unidos, na Alemanha e na China. A empresa retoma a tradição da Ford Motors Company, que só aceitou o sindicato após décadas de luta, em meio à II Guerra Mundial. O presidente da Tesla é um sucedâneo de Ford, com sua alegada liberdade do capital contratar individualmente a força de trabalho em suas condições, oferecendo em troca um salário aparentemente mais elevado e acima da média vigente no mercado, em qualquer país. leia mais