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A greve de ocupação da GM em Flint, Michigan, 1936-37

Internet Archive Way Back Machine –  29 Mar 2023

 

Tudo o que prejudica o trabalho é uma traição à América. Nenhuma linha pode ser traçada entre esses dois. Se alguém lhe disser que ama a América, mas odeia o trabalho, ele é um mentiroso. Se um homem lhe disser que confia na América, mas teme o trabalho, ele é um tolo.
-Abraão Lincoln

 

Em junho de 1998, trabalhadores de duas fábricas da General Motors (GM) em Flint, Michigan, entraram em greve. Uma senhora idosa usando uma boina vermelha juntou-se aos grevistas. Essa mulher era Nellie Beeson Simons 1 – ela tinha sido membro da Brigada Feminina de Emergência, que foi em grande parte responsável pela vitória sindical na greve de Flint de 1936-37.

 

A configuração

Os trabalhadores da linha de montagem da indústria automobilística eram pagos por peça na década de 1930. Ou seja, eles ganhavam uma certa quantia de dinheiro por cada silenciador que anexavam a um carro enquanto ele passava por sua estação de trabalho, ou por cada almofada de assento que instalavam, ou por cada porta que anexavam à estrutura. Trabalhar no ritmo mais rápido possível era essencial não apenas para conseguir um salário grande o suficiente para se sustentar, mas também para continuar no emprego. Quando as vendas desaceleravam ou o estoque aumentava por qualquer motivo, os trabalhadores mais lentos eram os primeiros a serem demitidos.

À medida que os trabalhadores se esforçavam cada vez mais para aumentar a sua produtividade e os seus salários, os líderes da indústria automóvel reduziam o pagamento por peça. Em seu livro Union Guy, Clayton W. Fountain lembra as condições dentro das fábricas:

De acordo com a teoria do incentivo salarial, quanto mais e mais rápido você trabalhava, mais salário recebia. O empregador, no entanto, reservou-se o direito de alterar as regras. Começaríamos com uma nova taxa, definida arbitrariamente pelo responsável pelo estudo de horas da empresa, e trabalharíamos arduamente durante algumas semanas, aumentando um pouco o nosso salário todos os dias. Então, certa manhã, o cronometrista aparecia e nos dizia que tínhamos outra taxa nova, um ou dois centavos a menos do que no dia anterior.

Em 1935, o trabalhador automotivo médio levava para casa cerca de US$ 900. De acordo com o governo dos Estados Unidos, US$ 1.600 era a renda mínima com a qual uma família de quatro pessoas poderia viver decentemente naquele ano. Durante o intervalo de três a cinco meses entre os anos de referência, as famílias dependiam de empréstimos do empregador, com o reembolso do empréstimo mais juros, reduzindo os salários em dez por cento quando o trabalho era retomado.

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Rosa Luxemburgo: DESEMPREGADO!

 

Apresentação

Apesar dos 109 anos decorridos desde a publicação original do artigo de Rosa Luxemburgo disponibilizado neste portal (texto a seguir), sua atualidade impressiona. Escrito [1] na véspera da Primeira das duas grandes guerras mundiais mais devastadoras da história da humanidade, o artigo situa o desemprego e a fome enquanto consequências inevitáveis do capitalismo. Se as transformações pelas quais passou o sistema capitalista são inegáveis, o capitalismo ainda é, porém, o mesmo. O quadro de “estagflação” em que se encontra a economia capitalista no mundo continua a reproduzir a tendência apontada pela revolucionária alemã. É o que se pode constatar ao ler Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências 2022, o último relatório da Organização Mundial do Trabalho (OIT): o desemprego poderá alcançar 207 milhões de pessoas em 2022, superando o nível de 2019 em torno de 21 milhões. A OIT apresenta a previsão de um déficit de 52 milhões de postos de trabalho em tempo integral, dada a jornada de 48 horas semanais. Por outro lado, ainda que a fome endêmica seja uma característica predominante na periferia do sistema capitalista, aproximadamente uma em cada 3 pessoas no mundo, ou 2,37 bilhões numa população mundial estimada em 7,8 bilhões (2020) não tinham acesso a comida adequada, conforme o relatório Estado de segurança alimentar e a nutrição no mundo (2021) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

A lei “natural” da economia capitalista impõe, periodicamente, através das crises econômicas, o desemprego como destino para uma parcela da força de trabalho explorada; porém esta lei, justificada pela competição intercapitalista que arrasta, em escala mundial, todos os países, nada tem de natural. Pelo contrário, as forças produtivas desencadeadas pela concorrência – na qual avulta a China como oficina industrial do mundo – criaram um nível de automação (informatização generalizada, robotização, internet das coisas) tão avançado que tornam o capitalismo cada vez mais desnecessário e retrógrado. A produtividade extremamente elevada chega a ponto de permitir que crianças, jovens, idosos e pessoas com limitações possam ser mantidas fora da população economicamente ativas e, por sua vez, de sustentar a taxa de desemprego vigente. Tal produtividade deve-se, por um lado, à exploração do trabalho intenso da parte ativa do exército industrial, o qual permite a transferência de valor das aplicações da ciência à produção, sob a forma de capital fixo, para as mercadorias e bens; e, por outro, ao conhecimento social incorporado gratuitamente por todos à circulação dessas mercadorias e bens, viabilizada na informática acessível universalmente hoje por celular. Confirma-se, assim, o prognóstico formulado por Marx na escrita de O Capital: a gigantesca riqueza gerada pela ciência e pela cooperação social continua a ser medida pela bitola estreita da mais-valia. [2]

A atualidade da análise e da denúncia de Rosa Luxemburgo nos leva também referendar a defesa da necessidade do socialismo enquanto alternativa ao capitalismo nas condições do século XXI. Que advirá não de um processo espontâneo ou “natural”, fundado nas contradições ou tendências destrutivas que reformas progressivas pela via social-democrata poderiam impulsionar, mas das possibilidades inscritas nas lutas de classes, em que pese a onda de direitização política em que nos encontramos por todo o lado e as nuvens escuras acumulando-se no horizonte, prenunciando a tempestade da guerra. A palavra de ordem formulada por Engels, reafirmada por Rosa Luxemburgo, Lenin e outros revolucionários no século passado, define o nosso desafio e empenho: socialismo ou a continuação da barbárie! (CVM)
___________

[1] Arbeitslos, 1913. Disponível em:
– Sozialistische Klassiker 2.0, acessível pelo link: https://sites.google.com/site/sozialistischeklassiker2punkt0/luxemburg/luxemburg-zustaende/rosa-luxemburg-arbeitslos
– Desempregado! Rosa Luxemburgo, Textos escolhidos, vol. I, organizado por Isabel Loureiro. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
[2] Marx K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ; 2011. p. 589.

 

Desempregado![1]

Rosa Luxemburgo

 

O ano que se aproxima do fim, que começou com um período de terrível desemprego para a classe trabalhadora alemã, constitui também um ano de jubileu na história de sofrimento e luta do proletariado europeu. Há exatamente meio século, em 1863, a famosa crise chamada Fome do Algodão atingiu seu clímax na Inglaterra. Um quarto de milhão de homens e mulheres completamente desempregados, mais de 1, 5 milhão empregados apenas alguns dias por semana em troca de míseros centavos; meio milhão de pessoas dependentes do apoio público – à luz ofuscante dessa miséria em massa, é que se deveria mostrar, pela primeira vez de uma forma clara, o que a sociedade existente estaria disposta a fazer pelas vítimas famintas de seu sistema e qual era o seu ponto de vista decisivo diante de toda essa miséria. Foi nessa época, quando os proletários de Lancashire, fartos de passar fome, se preparavam para uma emigração em massa para a Austrália, que apareceu o manifesto dos fabricantes, no qual os representantes dos sacos de dinheiro declaravam: sob nenhuma circunstância os empresários poderiam tolerar que parte de sua “maquinaria” – ou seja, a força de trabalho viva – deixaria o país. Porquanto seriam necessários novamente “em um, dois, três anos” quando os negócios voltassem a crescer. “Um, dois, três anos” de fome em massa: esse é o destino periódico da “máquina viva” sob o domínio do capitalismo – um destino que aparece para o capital como uma lei inviolável da natureza e, de fato, é tão inviolável quanto o capital joga peteca com milhões existências proletárias apenas com base em suas considerações de lucro, lançando-os ora no purgatório do excesso de trabalho, ora no inferno do desemprego completo. A vantagem dos magnatas do algodão de Lancashire reside no fato de não ter surgido nenhuma solução contra o desemprego em massa enquanto as forças de trabalho têm permanecido, “maquinaria viva”, propriedade privada do capital – apesar disso ter sido dito há meio século atrás, com uma franqueza cínica. leia mais

Comuna de Paris 1871. Assista na TVACOMUNA 18/03/2022 às 20 h

*Comuna de Paris*
Bertolt Brecht

Revolução
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas

Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.

Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.

Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá.

Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas

Considerando que sem os senhores,
tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que o que o governo nos promete sempre
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
– Deveremos então, sim, isso valerá a pena
– Apontar os canhões contra os senhores!

(Do texto “Os Dias da Comuna”, de Bertold Brecht, tradução de Fernando Peixoto).

“Os proletários da capital – dizia o Comité Central no seu manifesto de 18 de Março – no meio das fraquezas e das traições das classes governantes, compreenderam que chegara para eles a hora de salvar a situação assumindo a direcção dos assuntos públicos… O proletariado… compreendeu que era seu dever imperioso e seu direito absoluto tomar nas suas mãos o seu próprio destino e assegurar o triunfo apoderando-se do poder.”

 

 

 

Continua a luta dos trabalhadores metalúrgicos em Cádis, com grande manifestação

AbrilAbril23 DE NOVEMBRO DE 2021

 

O oitavo dia de greve por tempo indeterminado, que abrange mais de 20 mil trabalhadores do sector na província gaditana, ficou marcado por uma grande mobilização de apoio e por cargas policiais.

O Conselho Andaluz de Relações Laborais, órgão de mediação da Junta da Andaluzia, acolheu esta segunda-feira na sua sede, em Sevilha, a terceira reunião entre as partes desde o início da greve por tempo indeterminado, que terminou esta madrugada como as duas primeiras, sem acordo. Um dirigente da UGT disse à EFE que o patronato «não alterou o seu posicionamento».

Os trabalhadores do sector, que em Cádis ocupam mais de 20 mil postos de trabalho, decidiram partir para a greve para exigir a renovação do acordo colectivo, que caducou em Dezembro de 2020, o seu cumprimento, aumentos salariais e impedir despedimentos.

Com o fracasso na terceira ronda negocial entre organizações representativas dos trabalhadores e a Federação de Empresas do Metal de Cádis, as partes decidiram voltar a encontrar-se já amanhã para continuar a dialogar.

Entretanto, a greve prossegue. Esta terça-feira, oitavo dia consecutivo de paralisação dos trabalhadores do sector metalúrgico na província gaditana, ficou marcado por uma manifestação de apoio aos operários, à qual se juntou o Sindicato de Estudiantes, e que, segundo foi anunciado pela imprensa, deveria contar com a presença de dirigentes políticos regionais e provinciais de esquerda. leia mais

Novo Germinal: Maio das Lutas Operárias #05: operariado de MG se ergue em plena ditadura

A série Maio de Lutas Operárias, do canal Novo Germinal chega ao último episódio trazendo ao programa o movimento operário de Minas Gerais em plena Ditadura Militar. Quem nos traz estes relatos é a ex-metalúrgica, fundadora do Centro de Memória da Classe Trabalhadora e professora, Maria Antonieta Pereira, ex-militante da Polop. Na nossa bancada, contribuindo no debate, Francisco Lyra, também ex-Polop e integrante do Centro Victor Meyer e deste Novo Germinal.