Bernardo Kocher
Prof. História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Opera Mundi, 25 de abril de 2024.
A grande estratégia do Estado sionista tem sido metamorfosear seu projeto político doméstico em uma grande convulsão regional, o que explica a crise com o Irã
Em 13 de abril de 2024, o Irã atacou massivamente o Estado sionista em uma retaliação ao bombardeamento com vítimas à sua sede consular em Damasco. O ataque produziu efeitos simbólicos, uma espécie de “efeito demonstração” (por não ter atingido propositadamente áreas sensíveis entre a população civil e a atividade econômica), alcançando substantivamente apenas a base aérea no deserto de Neguev, instalação de onde partiram os aviões F-35 que atacaram a sede consular iraniana.
No dia 19 de abril o Estado sionista atacou o Irã, mas em intensidade bem inferior, se compararmos o número de drones e mísseis que percorreram os céus dos países vizinhos na semana anterior. Não há consenso entre os especialistas reportados na mídia sobre quais ou quantos armamentos foram lançados em direção ao país persa, mas é certo que a simbologia do ataque foi estabelecida ao dirigir parte destes para as imediações das instalações nucleares localizadas na cidade de Isfahan.
Dentro deste quadro de duplo ataque o que resta a considerar é a formação de uma nova equação de poder (militar) no Oriente Médio. Que o Estado de Israel tenha capacidade de externalizar poder é coisa sabida e estabelecida. O que é novo, o que foi demonstrado cabalmente no primeiro ataque, é que o espaço aéreo do Estado sionista também é poroso, vulnerável e suscetível; é possível impor ao Estado sionista uma posição pouco praticada por esta instituição (ao menos desde a Guerra do Yom Kipur, em 1973): a adoção de medidas defensivas no seu território contra hostilidades oriundas do exterior. Aqui é a ação iraniana que realmente precisa ser considerada nesta nova correlação de forças; esta situação foi ensejada pela exposição do território sionista a um arsenal de cerca de três centenas de armas de longo alcance (drones e mísseis), o que denuncia a existência de um estoque maior e mais poderoso em poder das forças armadas persas. leia mais