Contágio Social – coronavírus, China, capitalismo tardio e o ‘mundo natural’
ESPECIAL CORONAVÍRUS
Publicado em A Fita
[Aqui chegamos com mais uma tradução. Dessa vez um extenso artigo sobre as condições do capitalismo tardio que levaram a mais uma nova epidemia viral e possíveis consequências sociais do coronavírus sobre a população chinesa. O coletivo Chuang (que pode ser traduzido grosseiramente como ‘libertar-se; atacar, fazer carga; romper as linhas inimigas; agir impetuosamente’) é um grupo de comunistas chineses críticos tanto do ‘capitalismo de Estado’ do Partido Comunista Chinês quanto da visão neoliberal e por vezes racista dos movimentos de ‘libertação’ de Hong Kong. O coletivo publica, além de artigos em seu blog, um periódico temático que já tem duas edições, em inglês, e que pode ser consultado aqui ou adquirido via AKPress. Fiquei sabendo deste artigo através do Twitter do podcast estadunidense The Antifada (‘where unrest is best!’). Como a versão de WordPress que estou usando não parece suportar ‘âncoras’, coloquei as citações do texto, marcadas por colchetes em números romanos minúsculos, no final do post. Leia a publicação origainal, em inglês, aqui. Para continuar lendo traduções como essa e ouvindo nossos podcasts, considere colaborar com nosso Apoia.se. Quaisquer dúvidas ou correções podem ser encaminhadas para o nosso e-mail: mailto:afitapodcast@gmail.com]
A fornalha
Wuhan é conhecida coloquialmente como uma dos “quatro fornalhas” (火炉 火炉) da China por seu verão opressivamente úmido e quente, compartilhado com Chongqing, Nanjing e alternadamente Nanchang ou Changsha, todas cidades agitadas e antigas, localizadas perto ou ao longo do vale do rio Yangtze . Das quatro, Wuhan, no entanto, também é polvilhada com fornalhas literais: o enorme complexo urbano atua como uma espécie de núcleo para as indústrias siderúrgicas, de concreto e outras indústrias relacionadas à construção da China, com uma paisagem pontilhada pelos altos fornos de resfriamento lento das fundições remanescentes de ferro e aço pertencentes ao Estado, agora atormentadas pela superprodução e forçadas a uma nova e contenciosa rodada de downsizing, privatização e reestruturação geral – resultando em várias grandes greves e protestos nos últimos cinco anos. A cidade é essencialmente a capital da construção da China, o que significa que desempenhou um papel particularmente importante no período após a crise econômica global, uma vez que foram os anos em que o crescimento chinês foi impulsionado pela canalização de fundos de investimento para projetos de infraestrutura e construção de imóveis. Wuhan não apenas alimentou essa bolha com sua superoferta de materiais de construção e engenheiros civis, mas também, ao fazê-lo, tornou-se uma cidade em expansão imobiliária. De acordo com nossos próprios cálculos, em 2018-2019, a área total dedicada aos canteiros de obras em Wuhan era equivalente ao tamanho da ilha de Hong Kong como um todo. leia mais