Arquivo da categoria: marxismo

Anotações de Lenin sobre a correspondência entre Marx e Engels (1844-1883) e a questão do partido como vanguarda da classe operária

A Correspondência entre Marx e Engels que o (a) leitor(a) poderá ler, imprimir ou salvar como arquivo é uma co-edição da Pueblos Unidos (Montevidéu) e da Grijalbo (Barcelona) de 1976, esgotada. Trata-se de uma publicação, em língua espanhola, da edição russa do Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao extinto Partido Comunista da União Soviética (PCUS).  A edição compõe-se da parte selecionada por Lenin de mais de 1.500 cartas publicadas em quatro volumes na Alemanha, em 1913.

Lenin estudou a Correspondência naquele ano, com a intenção de transformar suas anotações e trechos extraídos em um artigo, o que não aconteceu. Vale apontar o critério adotado por ele na seleção das cartas estudadas. Como observado no Prefácio do Instituto, a seleção adotada teve como referência a elaboração e desenvolvimento da estratégia e da tática revolucionária do então partido social-democrata russo. Esta é, a nosso ver, a única forma de estudar a obra de Marx e Engels, inclusive nos esboços que se encontram nas cartas trocadas em torno de temas de interesse comum. Para estudar é preciso ficar longe tanto do academicismo em que mergulhou “marxismo ocidental”, como o chamou Perry Anderson, ou, no extremo oposto, do dogmatismo, inclusive de esquerda, que, em nome da defesa dos princípios do marxismo, transformou a teoria em fraseologia.Para auxiliar o entendimento das condições históricas a que reportam as cartas de Marx e Engels, e, assim , contribuir para reduzir os riscos desses desvios, recomendamos a leitura do livro “Marx-Engels e a história do movimento operário”, de David Riazanov, resultado de nove conferências feitas a operários em Moscou, em 1923, traduzidas para a língua portuguesa no Brasil pela Editora Global, em 1984. Por se tratar de uma obra esgotada (que ainda pode ser obtida na Estante Virtual), uma alternativa para o estudo sugerido encontra-se nos capítulos do livro “A história do movimento trabalhista europeu”, de Wolfgang Abenroth, divulgados no portal do Centro de Estudos Victor Meyer [link]. leia mais

I Internacional deixa mensagem para crises no Brasil e Europa

Entrevista de Marcello Musto concedida a Cíntia Alves e Patricia Faermann.
Imagens e edição por Pedro Garbellini.
Luiz Nassif Online

Jornal GGN – Centenas de anos se passaram desde que pipocaram as primeiras teorias sobre o futuro do capitalismo. O sistema atravessou séculos, entrou na era da globalização e arrumou seu próprio meio de sobrevivência, mas não sem despertar inúmeras contradições e tensões entre agentes sociais.

A crise internacional de 2008 e seus desdobramentos – mais visíveis nas principais economias do mundo – colocou em pauta a necessidade de repensar a forma como os trabalhadores se organizam por demandas nesse sistema, a exemplo do que a classe operária fez nos idos de 1860, com ajuda de pensadores como Karl Marx, um dos grandes responsáveis pela formação da primeira Associação Internacional de Trabalhadores. leia mais

Estratégia ou tática, reforma ou revolução: A questão das eleições do ponto de vista dos primeiros Congressos da Internacional Comunista (1919-1922)

CVM

 

No momento em que as esquerdas brasileiras também se voltam para pensar, debater e participar do processo eleitoral que acontecerá em outubro de 2014 é de grande importância refletir e discutir as teses e declarações dos primeiros congressos da Internacional Comunista. É importante ter em mente que os congressos, realizados entre 1919 e 1922, assumiram posições sobre a tática eleitoral numa época revolucionária.

A Internacional Comunista foi a iniciativa dos partidos revolucionários da classe operária tomada em Moscou, no período de 2 a 6 de março de 1919,  com o objetivo de romper com a política de colaboração de classes e de traição aberta, durante a I Guerra Mundial (1914-1918), adotada pela social-democracia, à frente da qual se encontrava a maior organização política de massas do mundo, o partido social-democrata alemão, sob a liderança de Karl Kautsky, August Bebel e outros. Para diferenciar-se dos social-patriotas, organizados na II Internacional, autodenominarem-se III Internacional e abandonaram a social-democracia como denominação ideológica, substituindo-a pela de comunismo. leia mais

O espelho da práxis: uma esquerda em crise e suas leituras de Gramsci

por Eurelino Coelho Neto
Professor Assistente da UEFS e Pesquisador do LDH/UFF
Texto para o XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA da ANPUH – Associação Nacional de História  – João Pessoa, 2003

No presente texto pretendemos analisar alguns usos de teses e conceitos de Gramsci feitos por autores e organizações de esquerda no Brasil entre os anos 80 e 90 do século passado. A hipótese geral é de que o exame do deslocamento de significado operado por certos intelectuais e grupos de esquerda sobre determinados conceitos gramscianos pode revelar traços distintivos dos projetos políticos daqueles agentes. A interpretação é uma operação que deixa marcas que o historiador pode recolher se deseja aprender algo sobre como pensam aqueles que interpretam. Mas não só: pretendemos indicar que algumas mutações nas leituras de Gramsci são sintomas de outras mudanças, essas mais complexas, que se passam ao nível dos projetos políticos e das visões de mundo dos referidos agentes. As marcas da interpretação trazem indícios dessas mudanças também.

Nossa análise recai sobre dois conjuntos de leitores de Gramsci no interior do PT: lideranças e intelectuais ligados às correntes internas Articulação – Unidade na Luta e Democracia Radical. Também faremos referência a líderes que, sem vinculação orgânica com estas correntes, compõem, junto com elas, o chamado campo majoritário do partido. Com estes grupos de petistas vamos descobrir que os sentidos atribuídos aos conceitos gramscianos, em particular o de hegemonia, sofrem um deslocamento importante entre os anos 80 e 90. A mudança pode ser apontada comparando-se textos do mesmo autor com poucos anos de intervalo entre as publicações. Procederemos a uma exposição sintética do uso de categorias gramscianas em alguns textos publicados entre 1987 e 1999. leia mais

O escravo da Casa Grande e o desprezo pela esquerda

Por Mauro Iasi
Publicado no Correio da Cidadania

 

Malcom X comparou, certa vez, os negros que defendiam a integração na sociedade norte americana com escravos da casa. Para defender suas pequenas posições de acomodação na ordem escravista, buscavam imitar seus senhores, copiar seus maneirismos, usar suas roupas, sua linguagem, adotando o nome da família de seus senhores. Daí o “X” no lugar do sobrenome do revolucionário norte americano.

Não é de se estranhar que os escravos da Casa Grande se incomodassem com as revoltas vindas da Senzala, pois poderiam atrapalhar sua instável acomodação, sua sobrevivência subserviente.

Dois textos recentes me chamam a atenção, não sei se produzidos pela mesma pena, mas certamente movidos pelo mesmo ódio e desprezo contra a esquerda em nosso país. Um deles é de autoria do sociólogo Emir Sader neste blog (“Não é a Copa, imbecil, são as eleições”), que recentemente comparou os manifestantes a cachorros vira-lata, outro é o editorial do Brasil de Fato de 03/06/2014 (“Eleições presidenciais e o papel do esquerdismo“) que, não contente em se aliar ao campo de apoio a Dilma, abriu as baterias contra a esquerda – aquela mesma que em muitas situações apoiou esse jornal, não apenas nas campanhas para sua sustentação, mas participando de seu conselho editorial e apoiando nos momentos mais difíceis. leia mais