Correios em greve!

Cem Flores

Mais uma categoria se levanta contra a piora nas condições de vida e trabalho no Brasil

Os trabalhadores dos Correios deflagraram greve nesta terça-feira, 18/08/2020, em todo o território nacional contra os ataques de mais um governo.

Diante da retirada de conquistas históricas e de cortes em benefícios, que impactam diretamente seus salários, esses trabalhadores resolveram responder com união e luta. Por isso, assim como os operários da Renault, devem ser tomados hoje como exemplos para todas as classes trabalhadoras do país, que estão a enfrentar a intensificação dos ataques dos patronais e do seu Estado.

Como veremos, a atual greve nos Correios é mais uma batalha de uma longa guerra dessa categoria. Guerra que tem se tornado mais difícil para os trabalhadores após as reformas trabalhistas e sindicais recentemente aprovadas no país. O que torna o apoio e a solidariedade a essa categoria ainda mais importante e decisiva.

Quem são os trabalhadores dos Correios?

A categoria é hoje composta por quase 100 mil trabalhadores. Desse quantitativo, cerca de 50 mil são carteiros e 30 mil são atendentes e operadores de triagem. Eles estão presentes em todos os municípios e têm um importante histórico de lutas.

A média salarial desses trabalhadores gira em torno de 2 mil a 3 mil reais de salário bruto. Com descontos provindos, por exemplo, de rombos criminosos no fundo de pensão e na cobrança abusiva de taxas de planos de saúde, alguns chegam a receber líquido até um salário mínimo por mês.

80% dos funcionários têm entre 35 e 59 anos e trabalham há mais de duas décadas na empresa, e desse trabalho, na maioria das vezes cansativo e danoso à saúde, tiram o sustento de suas famílias, além de gerar lucros para a União.

 

Breve histórico da recente luta da categoria

Nos últimos anos, houve várias lutas importantes, mas, desde o governo Dilma, e principalmente nesses últimos 4 anos, os trabalhadores vêm sofrendo perdas salariais para garantir o lucro da empresa. Essas perdas têm sido na maioria das vezes ratificadas pela “justiça do trabalho”, mais especificamente pelo Tribunal Superior do Trabalho – TST.

Porém, ano passado, após uma forte greve da categoria, o dissídio coletivo no TST sentenciou que os direitos do acordo coletivo valeriam por mais dois anos, sendo desnecessário processo de negociação em 2020. Contudo, a empresa acionou o STF com pedido de liminar para suspender a validade daquela sentença, fixando-a novamente no prazo de um ano, liminar essa concedida pelo presidente do STF, Dias Toffoli.

Passado esse prazo de apenas um ano, a categoria se encontra hoje sem acordo coletivo vigente. Fato que fez a empresa se sentir a vontade para cortar diversas conquistas e benefícios dos trabalhadores. Esses cortes já geraram perdas no seu auxílio alimentação (cerca de 200 reais mensais), no direito de férias e nos auxílios a trabalhadores pais de crianças com necessidades especiais.

Aqui vemos um efeito prático do fim do princípio da ultratividade, uma das mudanças recentes na legislação trabalhista que impactou fortemente a luta sindical no país. O fim da ultratividade gera a segurança jurídica necessária para a empresa cortar imediatamente os direitos dos trabalhadores ao término do prazo de validade do acordo coletivo, mesmo havendo processo de negociação em andamento. Com isso, o poder e a chantagem patronal se ampliaram, possibilitando a intensificação dos ataques aos trabalhadores, uma necessidade do capital sobretudo em tempos de crise como os nossos.

 

O cenário da atual greve

Essa categoria tem trabalhado durante toda pandemia, sofrendo diretamente com as perdas para o vírus, e viu a carga de trabalho quase duplicar devido à demanda aumentada por compras online e encomendas. E, mesmo assim, recebeu, ao final do mês, uma proposta de acordo coletivo repleta de cortes e ataques, que já se iniciaram, como vimos acima. Eis o “reconhecimento” e a “negociação” do patrão!

A liminar de Toffoli entrou em julgamento no STF e até dia 21/08 sairá o resultado.  Caso seja derrubada poderá significar um alívio momentâneo para esta categoria, embora a tendência seja o contrário.

Por isso, e para impor um basta à sanha patronal, a categoria se pôs novamente de pé e decretou greve! Isso mesmo sob ameaças de demissões, descontos e cortes de salário; mesmo com a maioria das direções sindicais (são 36 sindicatos no Brasil), desacreditadas por conta de muitos anos a frear as lutas da categoria, favorecer o pleito eleitoral de seus partidos, e a fazer, assim, os trabalhadores engolirem conchavos e cabides de empregos. Para a base, mais uma vez, a necessidade e a decisão de ir à luta falaram mais forte.

 

A linha política justa frente a essa greve

Os debates rasos e eleitoreiros que alguns militantes dos governos burgueses precedentes têm travado no ambiente virtual, querendo justificar e até parabenizar (sic!) os ataques que essa categoria está sofrendo, pelo fato de circularem imagens de trabalhadores dos Correios resistindo na época dos governos petistas, por exemplo, não contribuem em nada para o crescimento da resistência proletária na luta de classes no Brasil. Ao contrário, contribuem sim para destacar o papel que a posição reformista e oportunista pintada de esquerda tem tido.

O momento é da união de todos os trabalhadores dos Correios em defesa de suas condições de vida e trabalho. Assim como é momento de união de todos os trabalhadores das outras categoriais frente à imensa ofensiva de classe burguesa na qual todos são impactados.

O papel dos comunistas é atuar junto à massa dos trabalhadores, proletários e do povo em geral, nas suas lutas diárias e também nos grandes embates. Sempre impulsionando e construindo as formas de organização necessárias aos enfrentamentos. Por isso, nos colocamos ombro a ombro com os trabalhadores dos Correios, e dizemos em alto e bom som:

Toda solidariedade e apoio à greve dos trabalhadores dos Correios!

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