Carta aberta aos companheiros da Intersindical – instrumento de luta e organização da classe trabalhadora

 


Companheir@s, esta carta aberta propõe-se a iniciar uma avaliação crítica da trajetória recente do movimento sindical sob a liderança da Intersindical,
considerando o resultado do processo eleitoral para a nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, concluído em 16 de julho. Escrevemos para tod@s os que se pautam pela independência política da classe operária, na expectativa de compartilhar um aprendizado em torno desse processo. Para estimular o debate, apresentamos algumas questões e esboçamos algumas tentativas de respostas.

Assim, qual foi o resultado da eleição? Num total de 6.976 votos depositados em urnas nas grandes fábricas (Bosch, Mercedes, Valeo, Samsung, Hitachi, Toyota, SEW, Dell, Eaton, Vilares, Honda, Belgo) e nas sedes do sindicato (Campinas, Indaiatuba, Hortolandia, Americana e Sumaré), o resultado apurado foi 4.607 votos ou 56,39% a favor da chapa 2 contra 3.422 votos ou 41,88%, para a chapa 1. A chapa 2 apresentou-se como Frente Popular Socialista, uma coligação sindical aliada à CUT, CTB, UGT e Conlutas.

Uma eleição sindical é sempre expressão do nível de representatividade, de organização e de consciência dos operários associados. A Intersindical admite que a chapa vitoriosa expressou uma cisão dentro da diretoria do sindicato, porém as razões dessa vitória não ficam esclarecidas na nota publicada no portal da Intersindical. O interesse pessoal e eleitoreiro de candidatos, as ameaças e mentiras divulgadas por eles, ao lado das pressões patronais para limitar a campanha eleitoral, tem existido desde sempre no movimento sindical.

Então como explicar o voto operário?

É certo que a maioria dos aposentados tenha apoiado a chapa 2 que lhes acenou com acesso a planos de saúde diante da falta de acesso ao atendimento pelo SUS – mas isto não explica a totalidade dos votos que se distribuiu entre pequenas e grandes empresas.

A eleição entre os metalúrgicos de Campinas e Região foi grandemente marcada pela influência dos diretores e ativistas sindicais nas suas respectivas bases, nas empresas, assim como pelos nomes escolhidos, nestas, para compor as chapas. Aqui é importante chamar atenção para o fato de que a luta coletiva com a mobilização unificada da categoria já foi deixada para trás há um bom tempo. Ou seja, o movimento sindical em Campinas e Região segue o caminho geral, comum a todo movimento sindical no Brasil, de esvaziamento das Convenções coletivas de trabalho de reajuste salarial e melhorias para o conjunto da categoria dos metalúrgicos, em favor de Acordos Coletivos de Trabalho negociados no âmbito das empresas.

O que poderia demarcar a diferença de posições uma vez que as duas chapas representavam a cisão da mesma diretoria sindical?

A nosso ver, apenas o encaminhamento das lutas, nas quais os operários aprendem a distinguir amigos, inimigos e aliados. Não foi o caminho seguido, embora no final da campanha eleitoral do sindicato tenham ocorrido mobilizações, como a defesa do emprego na Mercedes-Benz. Prevaleceu, durante todo o ano de 2022, a participação sindical na campanha presidencial, pautada pelo “Fora Bolsonaro” e “Entra Lula”.

Porém a unidade política dos dirigentes sindicais em torno da candidatura de Lula, apoiada pela Intersindical, tornou extremamente difícil sustentar o discurso de apoio crítico quando se tratava de combater a conciliação de classe entre capital e trabalho. Para nós, a candidatura de Lula articulou-se à direita, não cabendo mais falar, inclusive, em conciliação e reformismo do ponto de vista político. Sem defender o voto nulo, o coletivo Centro de estudos Victor Meyer propôs ressaltar o quadro econômico de agravamento da inflação e a perspectiva imediata da fome para os trabalhadores. Quando as centrais sindicais mencionavam a situação, apontavam apenas para a solução governamental futura, abrindo mão de seu papel de mobilizar e defender os interesses imediatos das classes trabalhadoras. Exatamente por isso, o apoio crítico da Intersindical à candidatura lulista perdeu sentido ao deixar de mobilizar os operários para enfrentar as condições de vida e trabalho, diante da inflação que, em 2022, alcançava dois dígitos, a corroer brutalmente os salários reais.

Essa realidade não exigiria pelo menos deixar a eleição presidencial em segundo plano, colocando a necessidade do reajuste automático dos salários como prioridade da ação sindical, mesmo sem esperar as datas-base para lutar pela reposição das perdas?

Queremos ressaltar, portanto, nesta trajetória recente da Intersindical, a fragilidade das denúncias do oportunismo político e da tentativa de transformar o sindicato em apêndice do partido governante, o PT, quando não se procurou desenvolver a consciência da massa operária em torno de suas reivindicações, com uso de seus métodos de luta próprios.

E quanto ao futuro imediato?

A nota da Intersindical recusa a atitude de paralisia frente à derrota eleitoral, defende a firmeza na luta contra os ataques dos patrões e de qualquer governo de plantão e, ao mesmo tempo, afirma o caminho da oposição sindical para a retomada da direção do sindicato.

Contudo, como agir face a situação em que as demissões de membros da chapa 1 começaram um dia após a apuração dos votos, ameaça que paira sobre o conjunto dos que venham a se organizar enquanto Oposição para futuramente tentar a retomada do sindicato?

É fundamental apelar para a organização de base – e, nas circunstâncias – com relativa autonomia diante do sindicato que, sabemos, está atrelado ao Estado capitalista. Essa é uma experiência da qual os metalúrgicos de Campinas já participaram anteriormente, nos idos de 1984-1991 (*),  diante da repressão patronal, quando estruturaram grupos nas fábricas. Essa história deixa claro que a Oposição tem de ser construída de baixo para cima, num trabalho difícil e prolongado, única forma de garantir de fato a construção de uma trincheira da resistência e luta contra os ataques do Capital.

                                                                    *  *  *

(*) O documento Os grupos de fábrica de Campinas e Região (1984-1991) sobre essa experiência está disponível em nosso Portal na seção Acervos > Experiências de luta da classe operária. Leia aqui na íntegra e aqui o resumo.

Coletivo do Centro de Estudos Victor Meyer

19 de julho de 2023

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