Na Bolívia foi golpe patrocinado pela burguesia, golpe para tentar frear as lutas e as conquistas dos trabalhadores

Do portal da Intersindical, instrumento de luta e organização da classe trabalhadora

Na manhã de domingo, dia 10 de novembro, o presidente da Bolívia Evo Morales anuncia que convocará novas eleições, depois da Organização dos Estados Americanos (OEA) fazer coro com a oposição capitaneada pela burguesia boliviana e apoiada pelos EUA, afirmando haver vários indícios de fraude no processo eleitoral de outubro.

Na tarde do mesmo domingo, Evo Morales é forçado pelas Forças Armadas a renunciar do cargo de presidente, antes disso a violência comandada pela burguesia se espalhava pelo país.

Invadiram casas de trabalhadores, prenderam em postes dirigentes sindicais, a prefeita indígena da cidade de Vinto, Arce Guzman, teve os cabelos cortados, o corpo coberto de tinta e foi arrastada pelas ruas, a casa da irmã de Evo Morales foi incendiada, entre outros ataques que mostravam a fúria de uma burguesia que não se conformou em ver os avanços que os trabalhadores conquistaram através de muita luta.

As conquistas dos trabalhadores, dos indígenas, dos cocaleiros da população mais pobre na Bolívia não são conquistas simplesmente dos 13 anos do governo de Evo Morales; a vitória do MAS (Movimento para o Socialismo) em mais de uma década, elegendo e reelegendo Evo Morales e grande parte do Parlamento, tem relação direta com a luta dos trabalhadores bolivianos, que desceram das montanhas, ocuparam seu legítimo espaço e avançaram na luta em defesa dos seus direitos.

A burguesia boliviana nunca se conformou em ver indígenas conquistando direitos, trabalhadores na linha de frente das exigências que se contrapunham aos seus interesses; durante todos esses anos, os ricos encastelados principalmente na cidade de Santa Cruz tentaram por diversas vezes derrubar o governo e é de lá novamente que vem a ação que culminou no golpe.

É de Santa Cruz que vem Luiz Fernando Camacho, um dos burgueses que estão à frente da oposição que proporcionou o golpe, foi ele que conseguiu, com a conivência da polícia, entrar no antigo palácio do governo para tentar entregar documento exigindo a renúncia de Evo Morales. Filho de empresários de Santa Cruz, cidade onde se concentra grande parte das milícias responsáveis pela violência dos últimos dias, Camacho, como Bolsonaro se utiliza da religião alheia e do preconceito para tentar alienar a população.

Uma ação orquestrada pela burguesia para tentar frear a luta: os primeiros governos a saudar o golpe que depôs Evo Morales foram os EUA, com a hipocrisia de Donald Trump “saudando” a democracia e logo na sequencia seu fiel escudeiro, o boçal Jair Bolsonaro comemorando para variar nas redes sociais o que classificou como “grande dia”.

As declarações não são apenas chacotas que saem das bocas desses dois seres repugnantes, são afirmações de governos que estão devidamente subordinados aos interesses do Capital, na Bolívia não se trata de conter lutas exigindo direitos e mais políticas públicas, lá se trata de tentar retroceder no que até agora foi garantido pela luta dos trabalhadores na última década.

Não é um presidente, ou um governo que conseguirá enfrentar mais um golpe da burguesia, mas sim a luta da classe trabalhadora: Morales veio na posse de Bolsonaro, ajudou o governo brasileiro a extraditar Césare Batisti, ao mesmo tempo em que tentava se reeleger, estabeleceu uma relação pragmática com vários governos que na América Latina tentam avançar na agenda de destruição dos direitos, nada disso adiantou para continuar a ser aceito.

O que aconteceu na Bolívia foi um golpe militar patrocinado pela burguesia que quer voltar ao tempo em que conseguiam por completo submeter econômica e politicamente os povos originários que são a classe produtora de todo o valor, os trabalhadores indígenas. Não é à toa que Jeanine Áñez, a senadora de oposição que se auto proclamou presidente interina da Bolívia, correu para apagar pistas de seu preconceito de classe: em 2013, chegou a publicar numa rede social, que: “a cidade não é para os índios, que saiam daqui para os Andes ou para o Chaco [região boliviana]”.

Denunciar o golpe que depôs Evo Morales é parte da luta contra os ataques do Capital e de seus capachos na estrutura do Estado, mas a luta fundamental é fortalecer a solidariedade aos trabalhadores bolivianos que continuam ocupando as ruas de La Paz e várias cidades da Bolívia, em defesa de suas conquistas.

Não é o indivíduo por mais carismático e popular que seja que garantirá os anseios legítimos dos que são oprimidos e explorados, é a luta coletiva dessa imensa maioria oprimida e explorada que tem a força de enfrentar os ataques do Capital.

 

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