Fatos & Crítica 45: Economia em alta e popularidade em baixa?

 

 

Os últimos resultados das pesquisas de opinião sobre o governo Lula fizeram soar o alarme no Palácio do Planalto. Segundo o Datafolha, em março do ano passado, 38% dos entrevistados julgavam o governo ótimo ou bom, mas, decorrido um ano, esse percentual baixou para 35%. Inversamente, o número dos que consideravam o governo ruim ou péssimo subiu, no mesmo período, de 29% para 33%.

O governo não esperava essa evolução, diante de vários índices econômicos positivos: no ano de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 2,9%; o desemprego baixou (na média anual) de 9,6% em 2022 para 7,8% em 2023; 1,8 milhões de empregos formais foram criados no ano passado e a renda do trabalho teve um aumento de 11,7% no mesmo período.

Algumas autoridades ensaiaram explicar o mau momento sugerindo problemas de “comunicação”, ou seja, as suas ações positivas não estariam sendo adequadamente divulgadas e capitalizadas, enquanto a extrema direita continuaria muito ativa, bombardeando o governo nas redes sociais.

Já a grande mídia aproveitou para atribuir o desgaste do governo Lula a certas declarações sobre política externa destoantes das orientações emanadas pelo Departamento de Estado americano, como a condenação de Israel pelo genocídio em Gaza e em relação às eleições na Venezuela.

Além disso, andaram sugerindo que a queda da popularidade do governo poderia ter relação com as tentativas de intervenção na companhia Vale S.A. e com a não distribuição de dividendos extraordinários na Petrobras, assuntos muito relevantes para os grandes fundos de investimento nacionais e estrangeiros – cujos interesses a imprensa burguesa reverbera –, mas de repercussão praticamente nula para a população em geral, principalmente entre os trabalhadores. leia mais

Novo Germinal: A ditadura empresarial-militar de 1964-1985 e a classe trabalhadora. Entrevista com Eduardo Stotz e Mercedes Galvão

Nesta segunda-feira, 1° de Abril, às 19h, no programa Segunda Opinião, pautamos a perspectiva da Classe Trabalhadora sob a Ditadura Empresarial-militar de 64/85 com dois militantes que viveram o período e militaram na Polop, Eduardo Stotz e Mercedes Galvão, ambos do Centro de Estudos Victor Meyer.

Será uma conversa sobre as agruras e as lutas do proletariado nos anos de chumbo.

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https://www.youtube.com/live/voDfDr2toEY?si=U6gjwhCHc24V4osA

Novo Germinal: Gaza, Ano Zero: as raízes do holocausto palestino. Entrevista com Bernardo Kocher e Soraia de Carvalho

O programa Segunda Opinião está de volta nesta segunda-feira, 25/03, a partir das 19h.

Para esta retomada, trazemos o professor da UFF Bernardo Kocher para apresentar seu texto “Gaza ano zero – as origens do holocausto Palestino”. Para contribuir com o tema, convidamos a professora Soraia de Carvalho, Coordenadora do Núcleo de Documentação de Movimentos Sociais da UFPE – NUDOC e integrante do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino em Pernambuco.

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60 anos do golpe militar e a afronta da extrema-direita no Brasil

Eduardo Stotz
em Encontraponto

 

 

Em 31 de março próximo completar-se-ão 60 anos desde que um golpe militar derrubou o governo burguês reformista de João Goulart e instituiu uma ditadura aberta exercida pelo Alto Comando das Forças Armadas.

Para o diplomata e ministro das relações exteriores da ditadura militar, Vasco Leitão da Cunha, ao contrário da pretensa revolução que os golpistas afirmavam instaurar, o que se pôs em marcha dos quartéis para as ruas teria sido uma contrarrevolução preventiva. Porque se tratava de bloquear a emergência de uma “república sindicalista”, um passo decisivo para o avanço da “subversão” na América Latina.

Mas nada havia de revolucionário no governo Goulart. O problema era a radicalização das lutas dos trabalhadores pela melhoria dos salários e das suas condições de vida e pelo fim do latifúndio no Brasil, impulso que o presidente tentava canalizar para suas reformas de base. Impedir esse avanço e destruir o “esquema sindical-parlamentar” de Goulart foi a razão do golpe que, no final, contou com a unanimidade das classes dominantes.

Na Apresentação do Relatório da Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis, publicado pelo coletivo em 2018 [1], escrevemos:

Qual o sentido de se fazer uma narrativa de fatos e processos ocorridos há mais de 50 anos numa cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, como Petrópolis? De imediato podemos apontar o problema da permanente “intervenção militar”, ou para ser mais exato, da tutela militar da democracia no Brasil desde 1985, quando o Alto Comando das Forças Armadas transferiu o exercício do poder aos civis. Mais grave é, porém, o apoio político de massa à emergência e vitória de candidaturas de extrema-direita no presente ano eleitoral, oriundas do meio militar. Em outros termos, nossa resposta à questão proposta é: porque o passado ainda não é o capítulo de um livro cujas páginas possam ser viradas.

Quatro anos depois, em novembro de 2022, a ultradireita sofreu um revés eleitoral, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro. Nem por isso deixou de tentar golpear o novo governo de Lula, em 8 de janeiro de 2023.

A tomada da Praça dos Três Poderes em Brasília por uma violenta massa bolsonarista seria o pretexto para uma intervenção das Forças Armadas para evitar o caos político. O insucesso da tentativa em forçar Lula a aplicar a Lei de Garantia e Ordem na capital federal em 8 de janeiro e, portanto, do prosseguimento do ato golpista sob o aparente manto da legalidade, teve como razão o fato de que burguesia brasileira e o governo dos EUA opuseram-se ao golpe. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 2]

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro

A pretensa superioridade tecnológica e democrática de Israel foi viabilizada pela inserção mais que privilegiada da economia sionista na economia mundial

 

Na Palestina o fim da 1a. Intifada (1987-1993) marcou o início do “ajuste” local com a correlação de forças delineada no final da década de setenta, incorporando a agenda do islã político no interior da sua vida social; esta corrente político-religiosa diferia das forças já existentes por retomar uma visão belicosa para a solução do problema palestino, além da inspiração da religião como inspiração na condução da ação política.

O fim da URSS (1989) também contribuiu para criar um vazio de opções para a situação local, já que o encerramento da bipolaridade das superpotências também pôs fim à “Guerra Fria Árabe”, entre Estados adeptos do pan-arabismo e as “monarquias”. No novo contexto surgido no início da década de 1990, a primeira projeção para a situação palestina era de que o problema foi causado pela sua imersão no interior das tensões da bipolaridade, e, com o fim desta, tornou-se consenso a avaliação de que a paz seria finalmente possível.  Mas esta teoria não logrou êxito na busca da solução através da implementação da fórmula dos “dois Estados”, como ficou claro na fracassada tentativa de encaminhar o problema em negociações conduzidas pela Organização da Libertação da Palestina para a implementação dos Acordos de Oslo, no início dos anos 1990.

A Faixa de Gaza não é causa do conflito regional atual mas, antes, é produto de um confronto que não foi delineado pela História do povo palestino. Encurralada fisicamente (terra, mar e ar) por Israel e Egito, abandonada tanto pela solidariedade árabe (pan-arabismo) e/ou muçulmana (ummah) quanto pela orientação humanista/civilizatória do Ocidente (direitos humanos), inviabilizada politicamente pelo logro de várias resoluções não cumpridas da ONU favoráveis à melhoria das suas condições, restou à sua imensa população, concentrada num pequeno enclave contendo altíssima taxa demográfica, conviver com sua realidade material precária causada pela “prática social genocida” dos sionistas. A única instituição multilateral que presta efetivo apoio às necessidades da população é a UNRWA, criada pela ONU em 1949 para tratar especificamente da sobrevivência material da população palestina, ou seja, para mitigar uma situação criada pela própria instituição criadora! Sobre ela pesa a responsabilidade pela desastrosa proposta de partilha da Palestina, tornada velozmente letra morta pela violência dos sionistas, que implementaram a “sua” divisão territorial pelo uso indiscriminado da violência. A dificuldade deste órgão multilateral em estabelecer sua legitimidade na resolução da questão palestina deu-se desde a tênue tentativa de reformulação do projeto de partilha original, como foi exposto em artigo anterior a este, sobre o assassinato do Conde Folke Bernardotte. Este episódio teve êxito em inviabilizar reparos à Resolução 181. Nenhuma consequência adveio (nem mesmo por parte da própria ONU!) para os executores deste ato terrorista.

A crise atual possui um marco histórico conjuntural basilar: o voto majoritário que o islã político obteve em 2006 nas eleições legislativas. Tomamos em conta que o resultado não foi simplesmente uma opção pela afirmação da religião como condutora da vida pública mas, antes, uma primeira  votação definidora da representatividade política do povo palestino que se tornou plebiscitária, expressando claramente os fracassos de todos os envolvidos nas infrutíferas negociações para a implementação da fórmula dos dois Estados. A vitória do Hamas no pleito não ultrapassou os 45% dos votos, e a derrota do Fatah não foi inferior a 41%. Caso este resultado fosse indicado numa pesquisa de boca de urna, poderia ser considerado um empate técnico, se a margem de erro fosse de 2%. Mesmo considerando que na Faixa de Gaza a densidade eleitoral do Hamas foi mais expressiva do que na Cisjordânia, o pleito foi proposto para escolher representantes para o parlamento como um todo; talvez daí tenha surgido um ódio especial dos dirigentes sionistas para com a população de Gaza e a percepção distorcida que eles desenvolveram de que o islã político seria o marco definidor das perspectivas políticas da sociedade civil no enclave. Não, o resultado eleitoral refletiu uma resposta do eleitor palestino ao cotidiano de “negociações sem solução”, logo seguidas da brutal continuidade da “prática social genocida” sionista. Nesta clave o voto vitorioso do islã político neste pleito representou o “pelo menos eles querem lutar contra a ocupação do Estado de Israel e fazer algo pelos palestinos”, já que a OLP  a) desistiu da orientação de confrontar o sionismo; b) não construiu o Estado da Palestina; e, c) tornou-se um apêndice da política sionista de expansão dos assentamentos na Cisjordânia.  leia mais