1º de Maio de 68: trabalhadores expulsam governador e pelegos da praça

ESPECIAL CVM 1º DE MAIO !

Para a comemoração do 1º de maio de hoje, o CVM publica uma série de artigos sobre a luta da classe trabalhadora contra o Capital e seu Estado.

O artigo “1º de maio de 68: os trabalhadores expulsam governador e pelegos da praça” foi publicado no periódico Movimento Operário – Jornal de Luta dos trabalhadores – nº 4, em maio de 1968 pelo POC , Partido Operário Comunista (1968-1970). Registra a manifestação operária na Praça da Sé no passado recente em nosso país, numa demonstração de que os interesses dos trabalhadores não se misturam com os dos patrões. Um gesto na direção oposta da conciliação de classes que tanto as lideranças neopelegas acenam para os trabalhadores nos dias de hoje. O 1º de maio de 68 foi marcado também pela grande greve dos metalúrgicos de Minas, que naquele momento rasgou na prática a “lei trabalhista” feita para cercear a luta por aumento salarial.

 

O 1º de maio remete também às lutas de maio de 68 em França, frequentemente relembradas na mídia burguesa pelas imagens das marchas estudantis nas ruas de Paris enfrentando a repressão do Estado burgues. Não por acaso é omitido o fato de que este período foi marcado pela força das greves que paralisaram o país, envolvendo cerca de 4 milhões de trabalhadores franceses por mais de três semanas e 2 milhões por mais de quatro semanas. Publicamos o artigo de Peter Schwarz , “1968: A greve geral e a revolta estudantil na França“, parte 1 de uma série de 4, que observa  esses acontecimentos tendo como “pano de fundo (…) a primeira crise profunda da economia capitalista desde a Segunda Guerra”.

Publicamos também o artigo do blog Cem Flores intitulado “Os impactos iniciais dos primeiros seis meses da reforma trabalhista” (em realidade, uma contrarreforma), que analisa a ofensiva da classe dominante que visa “melhorar/retomar as condições para acumulação dos capitais via aumento da exploração e da dominação de classe.”

Por fim, a Intersindical – Instrumento de luta e organização da classe trabalhadora, tem a palavra na convocação de um 1º de maio de lutas: “No Brasil vivemos num momento em que a burguesia troca o presidente da República,  coloca um ex-presidente na cadeia e libera defensores da Ditadura Militar para serem candidatos, tudo para avançar contra os direitos da classe trabalhadora. Só as eleições não bastam. É preciso lutar!

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1º de maio de 68: trabalhadores expulsam governador e pelegos da praça

Do periódico Movimento Operário – Jornal de Luta dos trabalhadores – nº 4, em maio de 1968 pelo POC , Partido Operário Comunista (1968-1970)

Esse ano o 1º de maio em São Paulo foi de fato um dia dedicado a luta dos trabalhadores de todo mundo. A gente comemorou a data lutando contra o arrocho  do patrão, organizando um grande comício e uma passeata pelo centro da cidade. É essa forma certa de comemorar o 1º de maio: lutando.

Os operários que forma ao comício na praça da Sé não tinham ido lá para ouvir as mentiras e as tapeações da pelegada e dos políticos. Em vez disso, os operários tomaram om palanque na marra, e expulsaram de lá a pauladas toda cambada de pelegos e políticos, inclusive o governador Abreu Sodré. Foi isso mesmo: a pelegada e o Sodré apanharam dos operários na Praça da Sé, e tiveram que fugir e se esconder para não apanhar mais.

PORQUE SODRÉ FOI A PRAÇA DA SÉ

Será que Abreu Sodré, que é dono de fábrica e banqueiro foi à praça porque é amigo dos operários? Nada disso, se o Sodré diz que é amigo dos operários é só para nos enganar, porque na verdade ele é um patrão e defende os interesses dos patrões. É só ver o discurso que ele fez no ano passado.

Sodré chegou e disse: “No meu governo operário subversivo apanha”. Foram essas palavras mesmas que ele disse. O que é que ele queria dizer com isso? Para o patrão, operário subversivo é operário que defende os interesses de sua classe, os interesses de todos nós. No capitalismo os operários passam a vida nas fábricas para dar lucro aos patrões. Os operários não podem viver como gente, perdem saúde, vendem força por um salário que não dá nem para a comida. Quando a gente não aguenta mais a exploração e começa a lutar para melhorar a vida da classe, então os patrões chamam a gente de “subversivos” e jogam a polícia para cima de nós. Quer dizer: os operários “subversivos” são os operários que lutam contra a exploração dos patrões, somos todos nós. Então quando o Sodré ameaça bater nos operários “subversivos”, ele está ameaçando a gente, todos os operários.

Pois foi esse Abreu Sodré, representante dos patrões, que foi até a praça. Que é que ele queria ali? Em primeiro lugar ele queria nos tapear para amolecer nossa luta contra o arrocho dos patrões. Em segundo lugar, ele queria se promover as custas da gente. O Sodré está querendo subir de cotação na política. Mas para isso, ele tem que mostrar a todos os patrões que é capaz de enganar os operários, de controlar o movimento de luta dos trabalhadores. Foi o que ele tentou fazer no 1º de maio.

Só que os operários acabaram com a safadeza do Sodré. O governador teve que deixar o discurso de lado e fugir para não apanhar dos trabalhadores.

Em vez de falar, o Sodré que é representante de todos os patrões de São Paulo, dos tubarões, quem falou forma os verdadeiros representantes dos operários.

VALIA A PENA OUVIR SODRÉ FALAR ?

As coisas que o Sodré ia falar, a gente já está cansado de ouvir. Ele ia falar para a gente não lutar contra a exploração dos patrões, contra o arrocho, para ter paciência, para agente confiar nos pelegos e no governo. O Sodré ia dizer o que sempre diz o governo, os patrões e os pelegos. Por isso não valia a pena ouvir ele falar. O que a gente tinha que fazer era mesmo tomar o palanque e correr com toda aquela cambada de pelegos , políticos e policiais.

O GRANDE COMÍCIO DOS TRABALHADORES

Depois de expulsar a pelegada e o governador, foi feito um grande comício na praça da Sé com mais de 10 mil operários. Nesse comício falaram nossos companheiros de trabalho, operários de várias fábricas. As coisas que se falaram são coisas que interessam a toda a classe. Falou-se na vida de miséria dos trabalhadores, da exploração do patrão, e das formas de lutar de fato contra essa exploração. Do comício saiu a posição de que a única forma de derrubar o arrocho é pela greve geral operária. Depois do comício, todo pessoal formou uma passeata que percorreu o centro da cidade. Nessa passeata havia uma porção de cartazes e faixas dizendo: “Só a greve derruba o arrocho”, “A greve dos metalúrgicos mineiros é nosso exemplo”, “Aumento de 60% para devolver o que nos foi tirado desde 1964”, etc. Essa passeata terminou na Praça da República. onde houve um comício de encerramento.

Companheiros, as manifestações do 1º de maio mostraram a força que nós temos quando estamos organizados, se a gente se organiza dentro das fábricas, em comitês de empresa, chamando para a luta os companheiros, então não tem pelego, patrão nem governo que possa com a gente. Foi o que se viu em São Paulo no 1º de ,aio, e em Minas, na greve geral dos metalúrgicos. Do comício saiu a palavra de ordem: “Só greve derruba o arrocho”. Nossa tarefa agora é preparar essa greve.

A GREVE GERAL DOS METALÚRGICOS MINEIROS

17.000 metalúrgicos de Minas Gerais entraram em greve contra o arrocho salarial, lutando por um reajuste de 25%. E isso passando por cima das leis e dos pelegos. Por lei, como o último reajuste de 17% tinha sido em outubro de 1967, eles só podia, ter novo aumento no final do ano, em outubro. Só que as leis forma feitas pelos patrões para sufocar o movimento dos trabalhadores. Por isso os companheiros passaram por cima das leis.

A greve começou na Belgo-Mineira. O pessoal da seção de trefilaria foi a té o patrão e disse que eles queriam aumento imediato de 25%.Os patrões disseram que não, que o aumento era contra a lei, que só podia ter aumento em outubro. Daí os operários responderam que não queriam saber da lei; eles queriam saber era do aumento. Se o aumento de 25% não saísse, eles paravam a produção. E deram um prazo para os patrões. Quando o prazo terminou, eles pararam mesmo a produção. E não foi só a seção de trefilaria que parou. Foi toda a Belgo-Mineira que entrou em greve por aumento. O pessoal da Belgo não tinha ficado parado esperando a resposta do patrão. Eles foram se organizando dentro das várias seções. Quando o prazo que eles tinham dado aos patrões tinha terminado eles forma de seção em seção explicando para os companheiros o motivo da greve, parando o serviço. Dessa maneira todo mundo acompanhou a greve.

Depois foram parando outras fábricas: SBE, Mannesmann, etc.. O pessoal de uma fábrica que parava, ia logo avisar o pessoal das outras fábricas, para parar também. Até chegar a ter quase 17.000 operários em greve. Mesmo operários de fábricas que não eram metalúrgicas aderiram ao movimento. Toda a economia do Estado entrou em crise. Os patrões e o governo tremeram diante da força dos operários.

AS AMEAÇAS DO PASSARINHO

Assim que a greve começou, o Passarinho, ministro do Trabalho, foi para lá, ameaçar os grevistas. Ameaçou despedir, prender, e processar os grevistas. Mas os operários não tiveram medo. Disseram na cara do ministro que ele não passava de um representante dos patrões, um pau-mandado dos homens de dinheiro. O ministro-palhaço foi colocado no seu lugar – lugar de capacho dos patrões.

Conclusões: a greve durou 9 dias. Os operários não conseguiram o aumento de 25%, mas fizeram o governo recuar e dar o “abono de emergência”. O governo dos patrões deu o  “abono de emergência” para tentar esvaziar o movimento operário que está crescendo. Mas esse abono de emergência não vai enganar ninguém. Nós temos que lutar até derrubar o arrocho.

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