O “Massacre de Ipatinga”, os trabalhadores e o laboratório do Golpe de 64

Do site de Luis Nassif Online

Falar do “Massacre de Ipatinga” é não falar, é sinônimo de silêncio. Silêncio forçado, traumatizado, a lembrança arrancada da memória.

Ipatinga foi o local escolhido para se construir uma usina siderúrgica, a Usiminas. A estaca inicial foi fincada em 1958, e nessa época Ipatinga ainda era um pequeno distrito (Coronel Fabriciano-MG), mesmo assim o local é tomado pelas empreiteiras e empresas afins. Ao mesmo tempo, milhares de trabalhadores da região e de outros lugares, normalmente vindos do campo, também se dirigem para lá na esperança de condições de vida e de trabalho mais dignos, pois no campo elas são desumanas. Como o local era pequeno, não tinha estrutura para receber tanta gente, mas foi essa oferecida aos trabalhadores.

Usimimas 1

6 de Outubro de 1963 :

“Nesta data, ao saírem de uma estafante jornada de trabalho, os operários se defrontaram com uma repressão ainda maior que a usual. Todo mundo foi revistado; ninguém poderia levar leite para casa; o que sobrou, tinha de ser jogado numa grande lixeira instalada na portaria. Um operário insistiu em levar o leite, era o único que tinha para dar ao seu filho. Um vigilante, então, atirou contra o recipiente, derramando o leite e, por pouco, não acertando o trabalhador. Foi o estopim. A massa de operários abriu o portão à força; os guardas nada puderam fazer. Acionada, a polícia, quando chegou, encontrou poucos trabalhadores, mas não “perdeu” a viagem. Os retardatários foram presos e espancados. Os soldados, porém, não se contentaram e foram para o alojamento Santa Mônica. Avisados com antecedência, os operários fizeram barricadas e se prepararam para a luta. Os policiais recuaram. Partiram, então, para o Chicago Blitz, acampamento dos trabalhadores de empreiteiras, mais frágeis.” (*)

(*) http://averdade.org.br/2011/09/o-massacre-dos-operarios-da-usiminas/

Na manhã seguinte, a notícia do ocorrido na noite anterior já havia sido espalhada entre os trabalhadores, que logo se aglomeram na entrada da Usiminas e decretam greve. A direção aciona o Estado que envia policiais que chegam lá em caminhão sendo que um militar portava uma metralhadora. A tensão vai aumentando a cada momento até que os ânimos explodem e a polícia começa a atirar com a metralhadora em direção aos trabalhadores.

Usiminas 2

José Isabel do Nascimento era um dos trabalhadores e portava sempre uma máquina fotográfica. Ele foi o autor desta foto, e que levou um tiro momentos depois do registro, talvez o único do episódio.

Usiminas 3O corpo de José Isabel do Nascimento, em reportagem da revista ‘O Cruzeiro’

Segundo alguns trabalhadores que lá estavam presentes o total de vítmas foi de 30 mortos e 3000 feridos, mas oficialmente foram apenas 8 os mortos:

Aides Dias de Carvalho, Alvino Ferreira Felipe, Antônio José Reis, Geraldo da Rocha Gualberto, Gilson Miranda, José Isabel do Nascimento, Sebastião Tomé de Souza, além da menina Eliana Martins de 3 meses, morta no colo da mãe pelas balas da metralhadora.

Usiminas 4

Desse modo a revolta só fez aumentar, mesmo sob fogo os operários reagiram e os policiais tiveram que fugir; os três dias seguintes a usina ficou tomada pelos trabalhadores quando atearam fogo no caminhão da polícia.

Usiminas 5

Depois desse período uma comissão estadual foi negociar junto aos grevistas que conseguiram que as suas reivindicações como salários, moradias, alimentação, condições de trabalho, etc fossem atendidas.

Meses depois vem o golpe de 64, e para os trabalhadores de Ipatinga um outro golpe, o baixo; com a reação a implantação de algumas reivindicações foi interrompida, muitos foram mandados embora do trabalho e também da cidade.

Fábio Nascimento vai para Ipatinga filmar o documentário “Silêncio 63” na tentativa de obter alguma narrativa além dos fatos já conhecidos, entrevista diversas pessoas até chegar ao seu avô, que ao saber que era sobre o Massacre de Ipatinga, cai num silencio profundo.

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Comentários

  1. Odon Porto de Almeida disse:

    Ipatinga é uma tênue amostra da opressão de que é alvo os trabalhadores deste País há séculos. E a ditadura de 1964 foi uma amostra da política de nossas classes dominantes adotada sem freios por seus esbirros sempre fascistas.