Não à tropa!

Colectivo Bandeira Vermelha

 

Recentemente surgiram vozes defendendo o regresso do Serviço Militar Obrigatório (“a tropa”). Como que vindos do nada, generais, políticos e comentadores descobrem ameaças à segurança nacional, à democracia e à liberdade; que as forças armadas portuguesas não têm condições de responder às ameaças dos tempos actuais e defender a integridade e a soberania nacional, que são obsoletas, insuficientes e, por via disso, incapazes de cumprir satisfatoriamente os seus compromissos no quadro da NATO. Tudo isto devidamente embrulhado em bafientos discursos militaristas, em que não falta a estafada “honra e orgulho de morrer pela pátria” e os apelos patrioteiros.

De onde vem esta “descoberta”, dado que, olhando à nossa volta, não está o país em risco de ser invadido nem a ser ameaçado por espanhóis, norte-africanos ou árabes?
A resposta é simples, e nada tem a ver com qualquer suposto “interesse nacional” ou ameaça à “soberania nacional” mas com o desastre que está a ser a guerra na Ucrânia.
Falhadas as perspectivas iniciais de uma derrota rápida da Rússia que, dizia-se, seria posta de joelhos pela capacidade e superioridade da indústria de guerra ocidentais, pelas sanções, pelo boicote económico, o confisco dos milhares de milhões depositados pelos russos nos bancos ocidentais, e pelo envio de armas e mercenários, o que se prefigura é a derrota da Ucrânia – o mesmo é dizer, dos EUA, NATO e União Europeia. Algo tido como intolerável por estes, e que coloca a questão de se ter de vir a enviar tropas europeias (não norte-americanas, dado que quer Biden quer Trump já disseram que não o fariam) para combater na Ucrânia contra os russos, mesmo correndo-se o risco bem real de isso nos conduzir a uma terceira guerra mundial e ao holocausto nuclear. Macron foi o primeiro a apontar essa necessidade, ideia que lentamente vai fazendo o seu caminho e a ser secundada por responsáveis da NATO e da União Europeia.

 

Porque dizemos não ao Serviço Militar Obrigatório (SMO)

Entrar na discussão sobre as vantagens e os inconvenientes de termos um exército profissional ou de milicianos é entrar numa discussão que não diz respeito aos trabalhadores, aqueles que serão chamados para ir matar os seus iguais e ser carne para canhão numa terceira guerra mundial. É uma discussão que só diz respeito aos donos do mundo. Os trabalhadores não têm de dar conselhos aos poderes imperiais sobre os melhores meios de estes submeterem outros povos, nem como submeter o “inimigo interno”, isto é, os trabalhadores em luta e os movimentos antimilitaristas e pela paz.
O que interessa aos explorados e aos que se opõem à guerra para a qual estamos a ser empurrados é criar um forte movimento antimilitarista, antipolícias, anti-aparelho repressivo e pela paz entre os oprimidos pelo capital.
Um movimento que ponha em causa as vacas sagradas dos “valores patrióticos”, da “obrigação de servir a pátria”, etc.
Um movimento que desmascare o que na verdade se esconde sob a retórica da “defesa da democracia” e a “ameaça russa”.
Um movimento que defenda a objecção de consciência, os desertores e os refractários.

Portugal tem de deixar de ser cão de guarda das grandes potências. Os portugueses que integram ou venham a integrar as forças armadas para ser carne para canhão em guerras que não são suas, irão a milhares de quilómetros de distância agredir, metralhar, bombardear, policiar e “pacificar” povos que nunca nos fizeram qualquer mal. O país não tem de desbaratar vidas e recursos em guerras e intervenções militares a mando da NATO, servindo interesses estranhos ao povo português que trabalha, só porque os donos do mundo assim o querem. Não temos de ser cúmplices dos crimes do grande capital e dos imperialismos norte-americano e europeu, seja na Ucrânia, no Leste europeu, em África, na Ásia central ou Médio Oriente.

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