O movimento operário na Alemanha de hoje.
por Lothar Wentzel
Gostaria de responder de forma um pouco mais precisa a respeito de como os operários se movimentam politicamente na Alemanha. O cenário entre os operários tem um espectro muito grande. A maioria vota mesmo no SPD e no Partido da Esquerda (die Linke) – 35% também votam na CDU – mas sua posição move-se amplamente no campo do capitalismo. De 30 a 40% dos operários estão organizados em sindicatos. O capitalismo parece para os operários como o sistema econômico mais efetivo e o socialismo, depois da experiência com a Alemanha Oriental, caiu em descrédito. Na crise do mercado financeiro de 2008/09, ocorreu uma curta disposição de crítica ao capitalismo, pois se sentiu como é insegura a própria existência do capitalismo. Mas a crítica foi dirigida principalmente contra o capital financeiro e contra a especulação e a avareza. Sob pressão dos sindicatos, o tempo de trabalho foi encurtado, mas os operários – na maioria dos casos – não foram despedidos. Dessa forma, não ocorreu um aumento maior do desemprego. A situação ficou estável. A economia alemã depende muito fortemente da exportação de produtos industrializados. Ela encontrou novos mercados, principalmente na China. A situação econômica melhorou novamente. Em outros países da Europa, a situação parece essencialmente pior. Os operários veem que as coisas vão claramente melhor para eles do que nesses países. Por isso, a crítica ao capitalismo diminuiu e a política do governo é vista frequentemente de maneira positiva.
Os operários criticam hoje geralmente apenas pontos isolados, não o sistema econômico como um todo: a elevação da idade de aposentadoria para 67 anos, a existência de um setor de baixos salários (23%) e a falta de um salário mínimo, o trabalho temporário, o mau tratamento dos desempregados, os lucros brutais dos fundos de hedge, a distribuição injusta da riqueza, etc. O lado negativo é que muitos operários dizem que temos que pagar pelos erros de outros países europeus – por exemplo, a Grécia – que melhor seria que o dinheiro ficasse na Alemanha, pois temos problemas suficientes. Outros desprezam os pobres e desempregados: eles não querem trabalhar nem se esforçar. Chamamos a isso de chauvinismo da prosperidade.
Quais são as consequências políticas? O SPD não é mais um partido reformista. Ele quer apenas melhorar a gerência do capitalismo, sem mais nenhuma outra reforma estrutural. Assim, o die Linke encontra-se numa situação paradoxal: ele próprio tem que organizar um reformismo combatente. Só quando os próprios trabalhadores fizerem experiências com as possibilidades e limites do reformismo, podem desenvolver um pensamento que ultrapasse o sistema. O die Linke faz isso no momento. Por isso, eu o apoio. Os marxistas precisam, além disso, discutir em seus grupos as muitas questões em aberto: que consequências tiramos do fracasso da União Soviética? Qual o significado da crescente globalização? Como lidamos com a questão ecológica? E assim por diante.
Mais um complemento sobre as relações de classes na Alemanha. Os operários que têm um trabalho inseguro e trabalham no setor de baixos salários não acreditam mais que os partidos políticos os possam ajudar, nem mesmo o Partido da Esquerda. Eles não vão mais votar. A participação nas eleições nacionais para o Bundestag caiu de 85% (1982) para 73% (2013). Uma parte da perda do SPD explica-se por isso. O Partido da Esquerda é mais forte aí do que em outras camadas, mas até agora não pôde impedir a tendência à abstenção. 90% da população da Alemanha tem ocupação assalariada. A esse respeito, o desenvolvimento dos funcionários também é interessante. A classe média está dividida. As profissões sociais – professores, enfermeiros, etc. – tendem fortemente para os verdes e são mais da esquerda liberal. Os que dão apoio à gerência dos negócios – gestão financeira, planejamento – são mais conservadores. Às vezes há alianças com os verdes.
Frankfurt, 24 de abril de 2014.