Fatos & Crítica nº 3: Balbúrdia entre os representantes da classe dominante enquanto se mantém o jogo de soma nula

 

Nos quatro meses decorridos desde a última edição de Fatos & Crítica nº 2 pode-se dizer que a crise se mantém nos mesmos limites que deram origem ao título Jogo de soma nula. Apesar de ter conseguido aprovar parte do ajuste fiscal imposto pelos interesses do capital financeiro, no qual se unificam os interesses das demais frações do grande capital, do industrial ao agrário, o governo Dilma continuou a enfrentar a ameaça de impeachment e a recusa do Congresso a implementar outras medidas do ajuste, a exemplo do aumento dos impostos.

Uma aliança entre o PMDB e PSDB, interessados em desgastar e inviabilizar politicamente Dilma e o PT no rumo à sucessão de 2018, reuniu Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e Aécio Neves, candidato derrotado na eleição passada e atual líder das pesquisas sobre intenções de voto se a eleição acontecesse no momento atual. Na primeira semana de julho, considerando a probabilidade do Tribunal de Contas da União rejeitar as contas do governo Dilma, articularam-se para o impeachment. Entretanto, pairava sobre a cabeça de Eduardo Cunha (e também de Renan Calheiros, presidente do Senado), a ameaça da cassação de mandato em decorrência de denúncias oriundas da Operação Lava-Jato.

Afinal, acuado pela denúncia de ter recebido 5 milhões de dólares em propina em 2011, Cunha rompeu com o governo e anunciou a criação de duas novas comissões parlamentares de inquérito, a da apuração dos empréstimos concedidos pelo BNDES e a das irregularidades nos fundos de pensão, ambas contra o PT e a última com respingo sobre a CUT. O PMDB, contudo, não o acompanhou no enfrentamento do governo, deixando-o à deriva na gritaria contra o governo. Com os olhos postos nas eleições municipais de 2016, este partido precisa das verbas federais e preservar cargos que detém nos ministérios para repassá-las às prefeituras que, em sua maioria, controla pelo país adentro.

A balbúrdia entre os representantes da classe dominante parece que irá cessar com o afastamento de Eduardo Cunha enquanto ponta de lança da oposição e, desse modo, apesar do governo Dilma continuar enfraquecido politicamente é o único confiável, no momento, para a burguesia.

As condições gerais apontadas no boletim Fatos e Crítica de março ainda são as mesmas.
O apelo às manifestações direitistas – remarcadas agora para agosto vindouro – com apoio da principal organização da mídia burguesa no fundo tem por objetivo obrigar o governo a ampliar e aprofundar o ajuste e, de quebra, a fazer novas concessões, como também inviabilizá-lo politicamente para as eleições de 2018.

Os trabalhadores continuam em situação defensiva do ponto de vista político o que não significa que vão deixar de lutar por interesses específicos imediatos.
Tal como nos versos sobre o mar, que se movimenta sem sair do lugar, apesar das ondas revoltas, a possibilidade do impeachment do governo Dilma não se concretizou até o momento. O jogo de soma nula ou zero se mantém.

Coletivo CVM 19/07/2015

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