De volta a carestia

Coletivo do CVM, 12/09/2020

 

A crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus, tem gerado altos índices de desemprego e constantes investidas patronais contra os salários e as condições de vida dos trabalhadores brasileiros. Porém, como se isso não bastasse, vem ocorrendo agora um aumento significativo do preço dos alimentos mais importantes, aqueles consumidos no dia a dia pelos trabalhadores e suas famílias.

Os números divulgados pelo IBGE são alarmantes: no ano de 2020, até o mês de agosto, o arroz subiu 19,25%; o feijão preto, 28,92%; o óleo de soja, cerca de 30%; o pão e a carne, cerca de 10%. Somente no mês de agosto, o tomate subiu 12,98%, o óleo de soja, 9,48%, o leite longa vida, 4,84%, as carnes, 3,33% e as frutas, 3,37%! Basta comparar esses aumentos com a diminuição real dos salários verificados em várias campanhas salariais recentes para se avaliar o rombo que a carestia está causando no orçamento do trabalhador.

As causas para a carestia são atribuídas ao aumento dos preços de alguns produtos no mercado internacional, à desvalorização do real frente ao dólar (tornando a exportação mais atraente para os produtores), a problemas de safra de alguns produtos e ao aumento da demanda interna.

Preocupado com os efeitos eleitorais negativos da carestia, o capitão-presidente apelou para o “patriotismo” dos donos de supermercados e pediu que eles trabalhassem com um lucro próximo de zero nos itens da cesta básica. A proposta foi solenemente ignorada pelos representantes do grande comércio varejista.

Ao contrário, eles aproveitaram para ameaçar com o fantasma do desabastecimento, caso o governo tivesse a intenção (que nunca teve, aliás) de fazer tabelamento de preços. Além disso, sugeriram aos trabalhadores que substituíssem arroz por macarrão, fazendo lembrar a rainha que teria sugerido substituir pão por brioche, ao saber que o povo passava fome, durante a Revolução Francesa.

A classe dominante, sem dúvida, vem se esmerando em declarações que representam verdadeiros escárnios com a sorte dos trabalhadores. Economistas da grande mídia, por exemplo, atribuem o aumento dos preços à maior demanda provocada pelo auxílio emergencial. Acham que assim que ele acabar, em dezembro, a demanda diminuirá e os preços se equilibrarão. Pouco lhes interessa se isso vá ocorrer às custas daqueles que passarão fome.

O governo poderia ter minorado esses problemas se tivesse tido a preocupação de formar estoques reguladores, proibido ou restringido as exportações de alimentos durante a pandemia, ou fortalecido financeiramente a Agricultura Familiar, setor responsável por cerca de 70% do que é consumido na mesa dos brasileiros. Mas esse governo é comprometido com o agronegócio, uma das suas bases de sustentação, e não quer interferir em seus lucros, mesmo que estejam inflados pelos efeitos de pura e simples especulação.

Fora o apelo ao “patriotismo” dos donos de supermercados, que evidentemente não colou, a única ação do governo foi zerar a alíquota de importação do arroz, limitada a uma cota de 400 mil toneladas, pequena para um consumo anual de aproximadamente 11 milhões de toneladas. Eis a única ação do governo e restrita a este produto, sem que isso venha a resolver o problema da carestia que atinge os trabalhadores e suas famílias.

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