Os trabalhadores e a Constituinte

Erico Sachs
Texto publicado no Boletim Nº 2 da Fundação Wilson Pinheiro em agosto de 1985.

“O poder emana do povo”, diz hoje, nestas ou noutras palavra, qualquer Constituição democrática, desde os dias da República de Weimar. “Mas nunca mais voltou”, emendou um escritor crítico, que não se contentou com esta meia verdade.

Lassalle, no século passado, advertiu os operários a distinguir entre “constituição escrita” e “constituição real”: “O exército, os canhões fazem parte da Constituição de um país”. Hoje, podemos acrescentar: o poder econômico, o imperialismo, etc. Igualmente fazem parte da constituição real, independente do que a constituição escrita diz a respeito. Esta experiência amarga já tivemos em 1964. E a verdade se torna novamente atual, quando lemos na imprensa que as associações dos empregadores estão organizando um fundo de trilhões de cruzeiros para garantir a eleição de 300 candidatos para a Assembleia Constituinte, “soberana e independente” do ano vindouro. Nesse caso, a atuação da classe dominante é preventiva. Ela quer evitar que possa sofrer restrições legais, embora o seu domínio não dependa de textos escritos. leia mais

A perspectiva de classe nas eleições de 2014

texto do CVM para o debate: Esquerdas e Eleições 2014 – blog Marxismo21

 

1. O projeto hegemonizado pelo Partido dos Trabalhadores teria se esgotado?

A resposta à questão proposta supõe uma breve análise do papel desempenhado pelo Partido dos Trabalhadores na sustentação dos governos de Luis Inácio Lula da Silva (2003-2006; 2007-2010) e Dilma Rousseff (2011-2014).

Quando se faz menção ao “projeto hegemonizado pelo Partido dos Trabalhadores” deve-se ter em mente a participação direta deste partido na administração do Estado burguês no Brasil em nível nacional desde 2002. A principal referência para situar esse projeto nos termos do próprio PT é a Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, uma vulgarização do Programa eleitoral do partido intitulado “Um Brasil para todos: crescimento, emprego e inclusão social”. leia mais

Três questões sobre as eleições e a esquerda

por Eurelino Coelho – Professor de História da UFFS
texto para o Debate: Esquerdas e eleições 2014 – blog Marxismo21

 

1. O projeto de governo hegemonizado pelo PT teria se esgotado?

Inicialmente é preciso considerar a relação entre o projeto político do PT, que se define a partir dos objetivos estratégicos do partido, e seu projeto de se manter no governo do país, que é o carro chefe da política petista no curto prazo. Se pensássemos no segundo sem levar em conta o primeiro procederíamos a uma análise míope, já que o projeto de governo é uma elaboração tática concebida e desenvolvida a partir dos parâmetros traçados pelo projeto estratégico geral. Quanto a este projeto estratégico, que é o de constituir-se em ala esquerda do partido orgânico do capital, ele está longe de se esgotar. Ao contrario, tanto no plano interno do partido quanto na esfera mais ampla, da luta de classes, há mais elementos favoráveis que contrários à consolidação e ampliação daquela estratégia.

Não tenho como reproduzir aqui a análise, feita alhures, do transformismo, o processo através do qual os grupos dirigentes do PT mudaram sua relação com a luta de classes, desertando da construção da independência política dos trabalhadores e assumindo responsabilidades crescentes na gestão da ordem burguesa.[1] O ponto de chegada daquele processo, porém, me parece evidente para qualquer observador honesto: o PT de hoje se tornou exatamente aquilo que, nos primeiros anos, ele combatia de modo explícito e veemente, a saber, um instrumento de colaboração de classes. É extremamente improvável que este caminho possa ser percorrido de volta, isto é, que o partido renuncie às suas posições atuais (posições programáticas e suas correspondentes posições de poder material e simbólico) para retomar o percurso interrompido já há tanto tempo. A hipótese de que venha a ocorrer uma contramarcha no transformismo não tem precedente histórico e, de qualquer forma, não tem nada de concreto em que se apoiar. leia mais

CNV realiza ato para relembrar a repressão aos trabalhadores no Rio de Janeiro

O Grupo de Trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical”, da Comissão Nacional da Verdade, em conjunto com a Comissão Estadual da Verdade do Rio (CEV-Rio), realizará, na próxima quinta-feira (28), na sede da Central Única dos Trabalhadores, Ato Unitário no Rio de Janeiro, com o intuito de relembrar a resistência de sindicatos e trabalhadores à perseguição e repressão sofridas durante a Ditadura Militar.

Os atos unitários têm sido organizados em diferentes regiões do Brasil, com a participação de representantes de todas as centrais sindicais que integram o GT, com o objetivo de dar voz aos integrantes de organizações trabalhistas perseguidas e seus familiares. Durante o regime militar, diversas organizações sindicais, que lutavam e se articulavam para garantir seus direitos, e que ao mesmo tempo ganhavam força no cenário político do país, foram reprimidas e perseguidas. leia mais

O movimento operário na Alemanha de hoje.


por Lothar Wentzel

Gostaria de responder de forma um pouco mais precisa a respeito de como os operários se movimentam politicamente na Alemanha. O cenário entre os operários tem um espectro muito grande. A maioria vota mesmo no SPD e no Partido da Esquerda (die Linke) – 35% também votam na CDU – mas sua posição move-se amplamente no campo do capitalismo. De 30 a 40% dos operários estão organizados em sindicatos. O capitalismo parece para os operários como o sistema econômico mais efetivo e o socialismo, depois da experiência com a Alemanha Oriental, caiu em descrédito. Na crise do mercado financeiro de 2008/09, ocorreu uma curta disposição de crítica ao capitalismo, pois se sentiu como é insegura a própria existência do capitalismo. Mas a crítica foi dirigida principalmente contra o capital financeiro e contra a especulação e a avareza. Sob pressão dos sindicatos, o tempo de trabalho foi encurtado, mas os operários – na maioria dos casos – não foram despedidos. Dessa forma, não ocorreu um aumento maior do desemprego. A situação ficou estável. A economia alemã depende muito fortemente da exportação de produtos industrializados. Ela encontrou novos mercados, principalmente na China. A situação econômica melhorou novamente. Em outros países da Europa, a situação parece essencialmente pior. Os operários veem que as coisas vão claramente melhor para eles do que nesses países. Por isso, a crítica ao capitalismo diminuiu e a política do governo é vista frequentemente de maneira positiva. leia mais