Crise política: qual é o nosso lado nessa disputa? – Jornal Diário de Classe do SISMMAC

publicado no Dário de Classe, jornal do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba – SISMMAC

O cenário político que vivemos no país nos faz crer que existem dois lados distintos em disputa: um que vai às ruas contra a corrupção e outro que vai para defender a democracia. Segundo este raciocínio, não escolher um dos dois seria sinônimo de “neutralidade”.
Mas será que as coisas são tão simples como parecem? São só essas duas possibilidades que existem para nós, trabalhadores?

Acreditamos que não! Entendemos que é necessário ir mais fundo nesta análise, para então responder qual é o nosso papel e o nosso lado nessa disputa.

A falsa acusação de neutralidade

Na sociedade em que vivemos, existem de fato dois lados em disputa. Duas classes que possuem interesses opostos entre si: de um lado, os empresários, fazendeiros, banqueiros e, do outro, nós, trabalhadores. Neste sentido, temos um lado, sim: o lado da classe trabalhadora.

A disputa que hoje domina os espaços da grande mídia e das redes sociais nada mais é do que uma briga entre frações do empresariado em luta pelo poder político.

De um lado, temos os representantes das grandes multinacionais e do agronegócio tentando retomar seu espaço na Presidência da República. Figuras que se dizem contra a corrupção, mas que estão envolvidos em vários escândalos: desvio de verbas da saúde e da educação, nepotismo, recebimento de propinas, etc. Estes possuem a grande mídia a seu favor e também boa parte do judiciário.

Do outro lado, temos um partido que nasceu das lutas dos trabalhadores mas que, para chegar ao governo e se manter no poder, assumiu como seus os interesses dos banqueiros, de parte da grande indústria e do agronegócio. Um partido que, ao assumir a Presidência, deu continuidade aos projetos do governo anterior, e aprovou a Reforma da Previdência, atacou e retirou direitos trabalhistas com projetos como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e privatizou as empresas públicas mais lucrativas.

Para nós, trabalhadores, escolher um desses lados significa estar do lado errado. Estamos sendo empurrados para as ruas e para uma disputa fanática que mais parece briga de torcida organizada, que joga trabalhador contra trabalhador e esconde o que de fato está por trás disso tudo. leia mais

A Falsa Mudança

Erico Sachs

 
Apresentação: Este artigo foi escrito por Erico Sachs para a edição nº 1 do Jornal Política Operária (leia aqui), publicado em janeiro de 1962.  O parlamentarismo foi uma espécie de golpe civil pressionado pelos militares. Em 1963, por meio do plebiscito, Goulart retoma o presidencialismo e assim, seu mandato. Mas pode fazê-lo por conta da mobilização dos trabalhadores que, deste modo, serviu para “tirar as castanhas do fogo” (dos quartéis). Embora se tratasse de um latifundiário, comprometido com a classe dominante, Jango tinha o apoio dos sindicatos. A ilusão das reformas de base é desvelada, considerada por Erico como um fator de barganha da burguesia frente ao imperialismo e não como uma ameaça real aos pilares do Estado burguês. Mesmo reconhecendo um movimento golpista em curso,  na visão da classe operária, a oposição ao golpe não deveria implicar no alinhamento com os chamados “setores progressistas da burguesia” ou com a defesa de Jango e suas reformas . (CVM)
 
 

A Falsa Mudança

 A crise política suscitada pela renúncia do sr. Jânio Quadros e agravada pela tentativa dos setores mais reacionários da Forças Armadas para impor ao país uma ditadura militar teve, como resultado, a mudança do sistema presidencial para o parlamentar. Desapareceu, assim, a separação dos poderes para elaborar as leis e executá-las, antes exercidos, respectivamente, pelo Congresso e pelo Presidente da República, passando a concentrar as funções legislativas e executivas. Na impossibilidade de exercer diretamente estas últimas, o Congresso as delegava igualmente a um Gabinete de Ministros, que governa somente enquanto detêm sua confiança. Cabe, também, ao Congresso eleger o Presidente da República, cuja função é, essencialmente, representar o país no exterior e cujo único poder real é dissolver o Congresso, quando ocorrer crise política, convocando novas eleições para substituí-la.

— o —

 O parlamentarismo não é, em si mesmo, nem pior nem melhor do que o presidencialismo. Não é a forma do sistema político que importa, mas a classe a cujo serviço esse sistema se encontra. Num Estado burguês como o Brasil, todas as formas de governo ”não são senão variedades do Estado burguês, isto é, da ditadura da burguesia” (Lenin). Isso é tanto mais verdade se considerarmos que o parlamentarismo surgiu como fórmula de salvação para a burguesia, a quem não considerava uma saída (*) pela extrema direita e que temia que, radicalizando-se, a mobilização popular realizada contra o golpismo viesse a pôr em perigo sua dominação. Representou dessa maneira, simultaneamente, uma virtude e uma derrota para as forças populares as quais esmagaram o golpe fascista mas não conservaram o fruto dessa vitória, a não se no que lhes ficou de experiência e revigoramento. O Estado, todavia, permaneceu burguês, ainda que travestido de nova roupagem.

(*) Nota do CVM: o texto original contém uma palavra que está ilegível, deixando a frase truncada. Optamos por substituí-la, destacando em itálico.

— o —

Instalado o novo sistema, e empossados os srs. João Goulart e Tancredo Neves, a burguesia não modificou basicamente, a política que havia imposto ao sr. Jânio Quadros. Tornou-se apenas menos agressiva, tendo compreendido – foi a lição que tirou da crise – que o país marcha para crescente radicalização entre classes opressoras e oprimidas. Tratou, pois, de mascarar as aspirações populares resultantes da consciência cada vez mais aguda das massas em relação à espoliação de que são vítimas, sob a capa de “reformas de base”, realizáveis dentro do regime atual e com as quais pretende a burguesia reforçar a sua dominação. O custo de vida é aí o ponto mais sensível, já que é por onde as massas percebem mais claramente o processo de espoliação: a burguesia lança mão do aumento do salário mínimo (que não cobre sequer a elevação do custo de vida verificada deste outubro último) e preconiza a estabilização financeira (a qual, em regime capitalista, propicia a formação e a consolidação dos monopólios). O sentimento anti-imperialista das massas a burguesia emprega-o para ampliar suas relações comerciais, anunciar o disciplinamento das remessas de lucros e neutralizar as esquerdas. A crise agrária caracterizada pela superprodução das culturas para exportação e pelo desemprego ou subemprego da massa camponesa – cuja única solução está na liquidação do latifúndio e na subversão das relações de produção semiescravagistas que a sustenta – a crise agrária é agitada como espantalho pela burguesia (realmente assustada com o movimento das Ligas) a fim de forçar os latifundiários a fazer concessões, mas sem intenção séria de destruí-los. Cada aspiração popular é sim utilizada pela burguesia em proveito próprio, procurando ela induzir as massas a queimar os dedos para retirar do fogo as castanhas que completarão o seu banquete. leia mais

Fatos & Crítica nº 6: Dilma nas mãos do Congresso

O escritor americano Mark Twain afirmou certa vez que o seu país tinha “o melhor governo que o dinheiro pode comprar”, na mais perfeita síntese sobre a influência do poder econômico sobre as instituições políticas da democracia burguesa. Considerando as revelações da Lava-Jato e a situação política nacional, podemos adaptar a frase e dizer que o futuro político de Dilma está agora nas mãos do que pode ser descrito como o “pior Congresso que o dinheiro pode comprar”.

A crise econômica capitalista, que os analistas da direita atribuem oportunisticamente aos “erros do governo”, mas que tem na verdade caráter sistêmico e mundial abate-se agora com força inédita sobre o país, que sofre uma severa recessão. Nessas circunstâncias, a política de colaboração de classes que forjou a coalizão “social-liberal”, que governou o Brasil de 2003 até agora, não tem mais condições de se manter.

Essa coalizão, baseada na política de colaboração de classes conduzida pelo PT, preservou sempre em última instância os interesses do grande capital, mas garantiu algumas migalhas aos trabalhadores, viabilizadas pelo auge econômico propiciado pela valorização, no âmbito mundial, das matérias primas exportadas pelo país.

Mas, para combater a crise e retomar a taxa de lucros, a burguesia não conhece outro remédio a não ser a desvalorização dos salários, a retirada de direitos sociais e a venda na “bacia das almas” de propriedades públicas para grupos capitalistas privados. Depois de eleita, Dilma não vacilou e, tendo garantido o seu mandato, apresentou-se como condutora de uma política de austeridade, nomeando Joaquim Levy, representante do capital financeiro, para o Ministério da Fazenda. Este iniciou o arrocho com a promoção de grandes tarifaços, que alimentaram a inflação e a correspondente e desejada desvalorização salarial.

O receituário burguês para a política econômica de austeridade exige, entretanto, muito mais: fim da política de ganhos reais para o salário mínimo, criação de idade mínima para a aposentadoria, flexibilização ou retirada de direitos trabalhistas, privatização de estatais, abertura para o comércio internacional, etc. Essa política coloca o governo em rota de colisão direta com a CUT e as bases sindicais do PT. A política de colaboração de classes entrou em colapso.

O que se viu a seguir foi uma pressão política constante da burguesia para que Dilma aplicasse a sua pauta prioritária e uma insatisfação cada vez maior das bases sindicais do governo com as medidas de austeridade. Que a Presidente tenha se inclinado decididamente em favor da direita, revelam vários fatos: trocou o Ministro da Fazenda, mas manteve a política econômica, aceitou retirar a obrigatoriedade da Petrobras de explorar o pré-sal, abriu a possibilidade de transformar as empresas públicas em sociedades anônimas (para privatizá-las) e sancionou a lei antiterrorismo.

O governo Dilma, assim como fez no seu primeiro mandato e também o próprio governo Lula, quando confrontado com interesses divergentes na coalizão, privilegiou os interesses hegemônicos do capital. O problema é que agora, para os trabalhadores, não há mais migalhas para distribuir, mas sim desvalorização salarial, desemprego e perda de direitos. Não foi à toa que, em determinado momento, antes das revelações de Delcídio, Dilma tenha cogitado em prescindir do PT e governar apenas com as outras forças políticas, especialmente com o PMDB.

As revelações de Delcídio na Lava-Jato, de que a Presidente teria nomeado um Ministro do STJ com a missão de proteger os empreiteiros presos, e os fatos que se seguiram envolvendo os grampos telefônicos, colocaram de novo Lula, Dilma e o PT no mesmo barco, que faz água e está à deriva. O PMDB, como os ratos que são os primeiros a se movimentar nos naufrágios, preparou as malas para desembarcar desse governo e participar do seguinte, ainda que suas principais lideranças (Temer, Renan, Jucá, Cunha, Sarney e tantos outros) estejam implicadas até o pescoço com os métodos que o poder econômico da burguesia se utiliza para controlar o poder político, objeto da Operação Lava-Jato.

As manifestações de 13 e 18 de março, contra e a favor do governo, têm semelhanças e diferenças: ambas tiveram a participação expressiva da pequena-burguesia, mas a da oposição congregou os seus setores empresariais, mais velhos e de maior renda, enquanto a da situação, os seus setores assalariados, mais jovens e de menor renda. Do ponto de vista de escolaridade, uma pesquisa revelou que não havia diferenças estatisticamente relevantes entre os dois principais grupos que se manifestaram em São Paulo.

A grande ausência nos dois foi, sem dúvida, a classe operária. A única exceção foi a manifestação dos operários metalúrgicos de São José dos Campos, que fechou a Via Dutra e levantou a palavra de ordem de eleições gerais. Com a ameaça do desemprego crescente, os operários não têm ânimo para apoiar nem o governo, que no máximo lhes ofereceu um Plano de Proteção ao Emprego, que não os protegeu, nem a oposição, que não lhes oferece nada além de mais arrocho e perda de direitos. Numa situação em que o governo afunda, Lula se apresentou na manifestação mais uma vez como o conciliador, na vã esperança que ainda funcione a fórmula que deu certo nos períodos de bonança.

A burguesia, representada pelos seus órgãos corporativos – FIESP e FIRJAN – já não tem mais dúvidas que Dilma não tem condições políticas de conduzir a política de austeridade contra os trabalhadores na intensidade e na velocidade necessárias. Um pedido de impeachment em tramitação no Congresso se apresenta como a saída mais viável para resolver a crise. Que os elementos para o processo sejam frágeis, pois pedaladas fiscais todos os governos praticaram, que ele seja conduzido por Cunha, um personagem envolvido até a raiz dos cabelos com os processos da Lava-Jato, nada disso parece deter o trem em marcha. Se os fins justificariam os meios para o PT, ao adotar os métodos de governança da burguesia, o mesmo “silogismo dos jesuítas” vale para a oposição de direita: não importa que os motivos sejam fúteis, não importa que Cunha tenha as mãos sujas, o que importa é tirar Dilma e o PT do poder.

Surge então a discussão sobre se estaríamos na iminência ou não de um golpe de Estado. Se o critério para definir o golpe for a quebra da institucionalidade burguesa, nada indica que isso esteja acontecendo. Os militares estão acompanhando a situação, mas não têm motivos nem motivações para agir. Também não há nenhum líder bonapartista à disposição. O assunto está sendo conduzido pelo poder legislativo e pelo judiciário, seguindo regras e formalidades legais.

O que causa a impressão de golpe é que os motivos para o impeachment são pífios e podem criar um precedente perigoso para os futuros presidentes da República. Não é à toa, que a classe dominante prefere que Dilma renuncie ou mesmo se suicide, mas ela não é nem Collor, nem Jânio, nem Getúlio. Alguns pensaram numa reforma de sistema de governo que desse mais poder ao parlamento, mas esta seria uma solução improvisada, parecida com a de 1961, com chances reduzidas de vingar, ainda mais com um Parlamento totalmente desmoralizado pelas acusações da Lava-Jato. Assim, a OAB prepara outro pedido de impeachment, baseado em outras razões, e o TSE aguarda as provas da delação premiada que a Odebrecht certamente fornecerá, para invalidar a chapa Dilma-Temer.

Mas tudo indica que essas soluções alternativas não atendem ao PMDB, que necessita de um desfecho rápido para tentar se livrar do que lhe poderá ocorrer no futuro próximo. Prefere oferecer Dilma como boi de piranha, na esperança de assumir logo o poder, atender aos clamores da burguesia pela aplicação do programa de austeridade na velocidade exigida, oferecer à pequena-burguesia de direita a derrota do PT e, em seguida, estancar as investigações da Lava-Jato, em benefício próprio, mas também em prol da “governabilidade” e da “união nacional”.

Assim, a contraditória política levada a cabo pelo PT desde 2003 encontra-se hoje nos seus dias finais, pronta para ser alvejada pelo “pior Congresso que o dinheiro pode comprar”, com o PMDB à frente. Que isso não vai significar o fim das crises política e econômica é o que veremos nos próximos meses. A classe operária ainda não se pronunciou e, livre das amarras da política de conciliação de classes, não ficará inerte diante dos ataques que estão sendo preparados na surdina contra ela, pelos que se apresentam como os futuros sucessores de Dilma.

CVM – 26 de março de 2016

A burguesia que demite em massa, arrocha salários, ataca direitos, se aproveita do que ela mesma provocou, para exigir mais ataques contra a classe trabalhadora

Do site da Intersindical, Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora

A nossa luta segue contra os ataques dos patrões e de todos os governos que atentam contra a classe trabalhadora

Vivemos um momento em que no Brasil, o Partido nascido com os trabalhadores, fez um governo atendendo aos interesses dos patrões e agora é bombardeado pelos instrumentos dessa própria burguesia que quer se aproveitar da corrupção que ela mesmo patrocinou para exigir mais ações contra a classe trabalhadora.

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
NOTA DO CVM: vejam a lista dos 55 projetos de lei em discussão no Congresso Nacional que representam uma série de graves ataques a direitos sociais, principalmente, trabalhistas. Nos dá mais uma dimensão da ofensiva da direita que está em curso e com este artigo da Intersindical nos auxilia a refletir sobre a necessidade urgente da classe trabalhadora reagir a esses ataques. 

1.Regulamentação da terceirização sem limite permitindo a precarização das relações de trabalho (PL 4302/1998 – Câmara, PLC 30/2015 – Senado, PLS 87/2010 – Senado);
2. Redução da idade para início da atividade laboral de 16 para 14 anos (PEC 18/2011 – Câmara);
3. Instituição do Acordo extrajudicial de trabalho permitindo a negociação direta entre empregado e empregador (PL 427/2015 – Câmara);
4. Impedimento do empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho (PL 948/2011 – Câmara e PL 7549/2014 – Câmara);

leia mais

Adotar uma posição de classe frente ao golpismo em curso

Frente ao golpismo em curso, adotar uma posição de classe significa muito mais do que denunciar a supressão desta ou daquela cláusula da Constituição e do direito burguês, a exemplo de acusações sem prova material, e denunciar sim a intenção política do Ministério Público depor este governo para viabilizar os interesses de classe da burguesia, tornando-o alvo exclusivo do desmonte do esquema de corrupção que sempre alimentou a democracia burguesa não apenas no Brasil mas em qualquer país do mundo. De reconhecer que a democracia burguesa é uma forma de ditadura na qual se dá aplicação do proverbial princípio da política burguesa: “aos inimigos, a lei” mesmo se a lei for burlada – como está a acontecer no Brasil neste momento – alvo de “interpretações” amparadas exclusivamente na autoridade de quem as aplica.

Por tudo o que afirmamos acima, somos contra o golpe em marcha contra o governo Dilma e a perseguição política contra Lula e o PT, sem que isso signifique defender este governo e a política da conciliação dos interesses de classes que tal liderança e partido expressam.

Importa ainda alertar os trabalhadores de que os promotores do golpe “branco” ou “legal”, tendo à frente a “mídia” burguesa, parecem estar a dirigir apelos na direção dos quartéis, pedindo sua intervenção se a crise não tiver uma solução nas altas esferas do Estado.

Apenas a mobilização independente dos trabalhadores poderá enfrentar e superar a situação de conjunto em que vivemos. Esclarecê-los dos interesses que estão em jogo na cena política nacional nos debates que precisam acontecer nas assembleias sindicais e organização nos locais de trabalho é um passo fundamental e urgente. (CVM, Fatos & Crítica n.5)