Boletim de Conjuntura Nacional Nº 2 – agosto de 2013

Passeatas, paralisações de fábricas e bloqueios de rodovias foram as formas de luta mais presentes nas manifestações do Dia Nacional de Luta e iniciativas independentes, a exemplo da Intersindical.

Destacamos algumas passeatas. Em São Paulo (capital) a passeata de aproximadamente 10.000 pessoas na Avenida Paulista contou com a participação de 1.000 motoboys, em manifestação contra multa cobrada por trafegar de viseira do capacete levantada. A paralisação de várias atividades econômicas em São Paulo foi muito além da passeata, expressando o medo da pequena e média burguesia de que seu patrimônio fosse atingido que, desse modo, dispensaram seus empregados de forma antecipada. Parte das lojas comerciais fechou, mas é importante assinalar que na Rua 25 de março, onde se concentra o comércio popular, os empregados aderiram à manifestação que ali aconteceu reunindo aproximadamente 2.000 pessoas durante duas horas (Valor Econômico, 12,13 e 14/07/2013: “Indústria, comércio e bancos suspendem atividades”).

Em outras cidades, como no Rio de Janeiro, houve paralisação das atividades de serviços públicos, empresas e fundações estatais em decorrência da adesão dos funcionários ao Dia Nacional de Luta. A participação dos servidores públicos dos três níveis de governo foi notável em todas as passeatas e paralisações.

No caso de Porto Alegre, a paralisação da cidade decorreu da greve dos rodoviários. A decisão de 8.000 motoristas e cobradores aderirem em massa à paralisação de 100% dos ônibus, apesar da decisão judicial que determinava a circulação de 50% da frota nos horários de pico e de 30% nos demais períodos, foi explicada pelo diretor do sindicato, vinculado à Força Sindical, pelo engajamento da categoria na luta pela jornada de seis horas diárias. Em contraposição, a oposição sindical, vinculada à CUT, afirmava que a paralisação foi estimulada pela revolta dos rodoviários contra a Força Sindical (que pretendia seguir a decisão da Justiça do Trabalho de suspensão parcial das atividades) e teria sido bem sucedida porque se realizaram assembleias no dia anterior para organizar a participação no Dia Nacional de Luta. A oposição defendeu a “encampação das empresas de ônibus pela prefeitura e implantação do passe livre para estudantes, idosos e desempregados”. Diante do desgaste do pelego, a Força Sindical decidiu intervir para evitar que a oposição ganhasse terreno, como se manifestou na madrugada do dia 11 de julho (Valor Econômico, 12,13 e 14/07/2013: “Porto Alegre foi a única capital a parar 100% dos ônibus”).

A paralisação das fábricas, principalmente metalúrgicas e químicas no Estado de São Paulo (ABC, Campinas e região, Jundiaí, São José dos Campos, Curitiba e região), foi o resultado da ação dos piquetes organizados pelos sindicatos ou, como na Ford e outras empresas de médio e pequeno porte em Camaçari (Bahia), da intervenção da Oposição Sindical (CUT).

A maioria das adesões ao Dia Nacional de Luta nas grandes e médias empresas industriais demonstrou mais a liderança dos sindicalistas atuantes do que uma decisão tomada em assembleia para preparar e encaminhar as paralisações nas empresas.

Eis uma síntese das paralisações nas fábricas tomando como referência São José dos Campos. De acordo com o jornal digital O Vale, de 11/07/2013:

O Sindicato dos Metalúrgicos conseguiu paralisar a produção do segundo turno da GM. A maioria dos trabalhadores nem chegou a ir à fábrica. Os cinco ônibus com trabalhadores que chegaram por volta das 15h foram impedidos de entrar na empresa. Pela manhã, o sindicato também barrou o acesso dos trabalhadores à montadora. Segundo o sindicato, a adesão dos funcionários da GM ao Dia Nacional de Lutas foi total nos dois turnos, o que representa cerca de 5.000 trabalhadores parados.  A entrada do segundo turno da Embraer, em São José, sofreu um atraso de 40 a 50 minutos. Sem sucesso, cerca de 30 integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos bloquearam parcialmente a via de acesso à fábrica na tentativa de convencer os funcionários a aderirem ao Dia Nacional de Lutas. O bloqueio total foi impedido pela Polícia Militar. Cerca de 20 PMs mantiveram uma das faixas da via livre, garantindo a entrada de carros e ônibus com trabalhadores do turno que deveria começar às 15h. [http://www.ovale.com.br/nossa-regi-o/sindicatos-paralisam-fabricas-em-toda-a-regi-o-1.423524]

Houve também paralisações nas atividades portuárias de Santos e de Itaqui (Maranhão) por conta de reivindicações específicas dos trabalhadores da categoria dos estivadores que coincidiram com as manifestações do Dia Nacional de Lutas.

O mesmo aconteceu na dura greve nacional dos eletricitários que durou 20 dias e abrangeu 90% dos 27 mil trabalhadores de 14 empresas estatais vinculadas ao sistema Eletrobrás. A paralisação foi por aumento salarial, contra as demissões, o avanço da terceirização, a retirada de direitos e pelo cancelamento dos leilões de privatização das usinas hidrelétricas, dentre outras reivindicações.

A paralisação isolada mais importante durante o Dia Nacional de Lutas, a do Complexo Industrial Portuário do Suape (Pernambuco), envolvendo 80.00 trabalhadores, anunciada pela Força Sindical, não mereceu esta denominação. A operação de logística que envolve mais de quinhentos ônibus por dia, tem um horário de chegada entre 5:30hs às 7:30hs da manhã, ou seja, um verdadeiro comboio de duas horas de duração sob o controle da Petrobrás. Esta empresa, responsável pela contratação da maioria dos operários, articulou e fechou o expediente no Porto. Portanto, não houve expediente no Porto de Suape no dia 11 de julho. Os operários foram “liberados” para irem à manifestação no Recife, cidade na qual, aliás, quase ninguém mora. Mas foi esse processo que foi aprovado pelos sindicatos e, ainda por cima, apresentado como uma “paralisação”.

Em compensação os bloqueios das rodovias federais e estaduais e a liberação dos pedágios consistiram em iniciativas importantes dos movimentos da Via Campesina, principalmente do MST que fez o Dia Nacional de Luta repercutir por quase todo o país.

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