De movimento a movimento: aliança campo e cidade por soberania alimentar nos territórios
CEAS, Centro de Estudos e Ação Social
Articulação e solidariedade entre comunidades rurais e urbanas são alternativas para fortalecimento territorial e defesa da vida
No dia 30 de abril, última sexta-feira, foi realizada mais uma importante ação de solidariedade entre movimentos do campo e da cidade com o objetivo de promover a segurança alimentar e a defesa dos territórios. Cerca de 2,4 toneladas de alimentos agroecológicos, distribuídos em 150 cestas, foram entregues a comunidades periféricas de Salvador. Os alimentos são oriundos de áreas de Reforma Agrária, organizadas pelo Movimento CETA, no sul da Bahia, e pela Pastoral Rural da Diocese de Paulo Afonso; os destinos das cestas na capital baiana, articulados através do trabalho do CEAS, foram: Alto das Pombas, com a liderança do GRUMAP (Grupo de Mulheres do Alto das Pombas), comunidades do Movimento Sem Teto da Bahia – ocupações do Centro Histórico e a Quilombo do Paraíso, no subúrbio, Artífices da Ladeira da Conceição da Praia e Vila Coração de Maria, no bairro 2 de julho.
Essa ação primeiro retoma articulações realizadas durante o ano passado pelo CEAS junto aos movimentos, que buscaram contribuir com o enfrentamento à pandemia e suas consequências sociais. Em segundo, dá o pontapé para consolidação de uma campanha permanente para o fortalecimento da aliança entre campo e cidade, pautando a luta por soberania alimentar e a defesa territorial como pontos comuns e fundamentais para a construção de saídas no contexto de aprofundamento das crises sanitária, social e econômica no país.
Segundo um estudo lançado em abril deste ano, conduzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mais da metade dos lares brasileiros conviveu com algum grau de insegurança alimentar nos últimos três meses de 2020 e cerca de 19 milhões de pessoas passaram fome no período. A pesquisa foi realizada no período em que o auxílio emergencial foi reduzido à metade (de R$ 600 para R$ 300 mensais), e posteriormente cancelado entre janeiro e março de 2021. E mesmo em meio ao aumento da fome, do desemprego, do abandono das políticas sociais e do assustador número de mortes evitáveis por covid-19, ultrapassando 408 mil óbitos, a “boiada” não para de passar e há muita insegurança nos territórios.
Nas cidades, governos e poderes orquestram despejos em meio à pandemia, submetidos à pressão da especulação imobiliária, e o preço dos alimentos e de itens básicos, como gás e energia, só aumentam ao serem regulados pela lógica do capital financeiro. Paralelamente, para o campo, o governo federal legaliza a grilagem de terras, o desmatamento e a privatização dos bens comuns, como a água, além de autorizar a comercialização de dezenas de agrotóxicos já banidos em outros países via Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o mesmo órgão que atrasa a liberação do uso de vacinas contra a covid-19, por exemplo.
Diante desse cenário, a esperança de superação e proposição de alternativas emergem da organização coletiva e da luta popular comunitária. De um lado, a campanha fortalece a produção e comercialização de alimentos saudáveis – com respeito à natureza, sem uso de venenos e sem exploração do trabalho das camponesas e camponeses – chamando atenção para a importância da agricultura familiar e da luta pela terra. De outro, contribui com a resistência das comunidades nos seus territórios, desafiando a política de fome, insegurança e morte, e costurando uma rede solidária entre os povos por soberania e bem-viver.