Trabalhadores em greve na Europa: retomada da luta de classes (artigos da imprensa internacional)
Reproduzimos a seguir alguns artigos publicados na imprensa europeia sobre as greves dos trabalhadores na França, Alemanha e Inglaterra. Com a inflação, o aumento do custo de vida e a consequente perda do poder aquisitivo dos salários, as classes trabalhadoras se mobilizam em manifestações de rua e greves gerais em protesto contra os patrões e seu governo.
Essas lutas possuem um caráter econômico, sem dúvida. Porém, rompem com o imobilismo e enfrentam a sanha capitalista de jogar a crise econômica nas costas da classe trabalhadora.
Na memória das gerações de operários há uma incontestável tradição de luta que pode vir a tona e fazer avançar a organização e a consciência de classe em oposição aos interesses da burguesia. Esse é o primeiro passo mas é um avanço fundamental para a classe trabalhadora: divisar e enfrentar as classes exploradoras e não lhes dar sossego. (CVM)
Maior greve em três décadas paralisa a Alemanha
Deutsche Welle 27/03/202327 de março de 2023
Trens, ônibus, aeronaves e embarcações não operam nesta segunda-feira, em pressão por aumento de salários. Entenda por que os sindicatos são tão fortes na Alemanha e seu grande poder de negociação
Boa parte da Alemanha está parada nesta segunda-feira (27/03): trens, ônibus, aviões e embarcações não estão operando, na maior greve do país em mais de 30 anos, com impactos em praticamente toda a sociedade alemã.
Dois dos mais importantes sindicatos da Alemanha, que juntos somam mais de dois milhões de membros – o Sindicato dos Ferroviários (EVG) e sindicato do setor público alemão(Verdi) – convocaram uma greve conjunta, planejada para coincidir com o início da terceira rodada de negociações salariais. Os sindicatos exigem aumentos de pelo menos 10,5%, devido à alta histórica na inflação alemã, que afeta diretamente os custos de vida. Nas outras rodadas, aumentos de 5% e pagamentos de bônus únicos foram rejeitados.
O tráfego de longa distância nas ferrovias está quase completamente interrompido, afetando também países vizinhos, visto que muitas linhas têm trajetos além das fronteiras alemãs. No tráfego regional, a maioria dos trens também não circula, de acordo com a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB).
Todos os grandes aeroportos estão em greve, com exceção do de Berlim-Brandemburgo, que está operando voos internacionais, já que os domésticos não estão chegando nem partindo devido à paralisação nos outros aeroportos do país. Estima-se que 400 mil passageiros sejam afetados.
Além disso, em sete estados – Baden-Württemberg, Hesse, Baixa Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália, Renânia-Palatinado, Saxônia e grandes partes da Baviera – ônibus urbanos, metrôs e bondes também estão parados.
O transporte de cargas, tanto na rede ferroviária quanto nos portos, também é atingido, pois os estivadores se juntaram aos grevistas. Consequentemente, entregas de mercadorias que seguiriam por barcos e trens também foram afetadas.
Outro reflexo da greve é a maior circulação de carros nas rodovias, devido aos transportes públicos e de longa distância parados.
O que pedem os sindicatos
Os dois grandes sindicatos estão em um impasse nas negociações com os empregadores do setor público federal e locais em vários setores de transporte – incluindo ferroviário, transporte público local e pessoal de terra em aeroportos.
Para pressionar um acordo, 350 mil trabalhadores de diferentes setores foram convocados a aderir a chamada “greve de advertência” nesta segunda-feira, que foi precedida por paralisações menores nas últimas semanas.
No caso do Verdi, uma nova rodada de negociações, ao lado da Federação Alemã de Funcionários Públicos e União Salarial (DBB), com representantes do governo federal e dos governos locais começa nesta segunda-feira em Potsdam para definir o destino dos salários de 2,4 milhões de pessoas. O sindicato exige 10,5% e pelo menos 500 euros a mais de salário por mês. Anteriormente, os empregadores oferecem um aumento salarial de 5% por um período de 27 meses e uma compensação 2,5 mil euros em um pagamento único, isento de impostos.
O EVG, por sua vez, recomeça no meio da semana negociações coletivas com a Deutsche Bahn e cerca de 50 outras empresas. Se não houver um acordo, o sindicato não descarta novas paralisações no feriado de Páscoa. O EVG pede aumentos salariais de 12% ao longo de um período de um ano, mas pelo menos 650 euros como “componente social”.
A Deutsche Bahn criticou a paralisação, que classificou como “exagerada”. “Milhões de passageiros que dependem de ônibus e trens estão sofrendo com essa greve excessiva e exagerada”, disse o porta-voz da Deutsche Bahn, Achim Strauss. “Nem todo mundo pode trabalhar remotamente”, acrescentou.
“Milhares de empresas que normalmente enviam ou recebem suas mercadorias por via férrea também vão sofrer”, disse, destacando que “o meio ambiente e o clima também sofrerão” e que os vencedores serão “as empresas petrolíferas”.
Por que os sindicatos são tão fortes na Alemanha?
Diferentemente do Brasil, a Alemanha adota, desde 1945, um modelo de unidade sindical. Além disso, a associação a um sindicato ocorre de forma espontânea, sem qualquer imposição normativa e sem qualquer restrição legal. No final de 2018, por exemplo, aproximadamente 7,8 milhões de pessoas pertenciam a um sindicato, de acordo com estudo da Fundação Friederich Ebert.
O nível de sindicalização na Alemanha é considerado alto, mas concentrado em um pequeno número de entidades, que, portanto, tem maior representatividade e, consequentemente, mais poder de negociação coletiva. O Verdi, por exemplo, reúne trabalhadores de mais de mil profissões e é o segundo maior do país em número de filiados.
Em outras palavras: enquanto no Brasil os sindicatos são mais numerosos e bastante segmentados por áreas e por regiões, na Alemanha são mais abrangentes, em menor número e com mais filiados. Assim, greves gerais como a desta segunda-feira se tornam possíveis, com um alto impacto em todo a sociedade.
O modelo de sindicato unitário foi adotado na Alemanha logo após o fim Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Fundação Friederich Ebert, um dos motivos foi que a divisão política do movimento sindical foi considerada uma das causas de sua destruição quase sem resistência pelos nacional-socialistas em 1933.
Outro ponto fundamental é que não existem vínculos formais entre as centrais sindicais e os partidos políticos e nem repasses de verbas por parte das legendas aos sindicatos.
A contribuição sindical pode ser deduzida do imposto de renda, e os dias de greve não pagos pelos empregadores são ressarcidos pelos sindicatos aos trabalhadores.
Custos da greve
Apesar dos transtornos causados aos cidadãos, principalmente a dificuldade para chegar ao trabalho, especialistas financeiros avaliam que as consequências da greve desta segunda-feira na economia alemã são bastante limitadas.
“A megagreve é um problema para os cidadãos e prejudica a reputação da Alemanha como um país de negócios”, disse o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Kramer, em entrevista à agência de notícias Reuters. “Mas os impactos econômicos de uma greve de um dia são limitados, já que quase todas as empresas, exceto as diretamente afetadas, continuarão [trabalhando] normalmente”.
Os portos bloqueados, voos cancelados e linhas de trem paradas podem gerar prejuízos de até 181 milhões de euros, estima Klaus Wohlrabe, especialista do Instituto de Pesquisa Econômica (Ifo), da Alemanha.
le (Reuters, ots)
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Sindicatos prometem parar a França, em primeira greve após aprovação da reforma da Previdência
Os sindicatos organizam mobilizações em toda a França nesta quinta-feira (23). Esta será o primeiro dia de greve nacional desde que o governo decidiu usar o artigo 49 alínea 3 da Constituição francesa para aprovar a reforma da Previdência sem votação na Assembleia Nacional.
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Desde a aprovação da reforma da Previdência na última quinta-feira (16), mobilizações espontâneas ou anunciadas contra a reforma das aposentadorias se multiplicaram por toda a França. Mas, para os sindicatos, o “novo grande dia de greves e manifestações” marcado para quinta será decisivo. Será a oportunidade de mostrar a força do movimento social ao presidente Emmanuel Macron, que insiste em adotar uma reforma rejeitada pela maioria da população.
Cerca de 250 manifestações estão previstas para quinta-feira, de acordo com convocações dos sindicatos para este nono dia de mobilização contra a reforma da Previdência. Um número comparável aos dias anteriores de protestos.
O transporte ferroviário será gravemente afetado. Além da greve parcial na empresa SNCF, está prevista uma paralisação em massa do tráfego nesta quinta. Um porta-voz da empresa recomenda aos viajantes que cancelem ou adiem suas viagens.
Metrôs e na rede de trens suburbanos também serão fortemente afetados. De acordo com a RATP, empresa responsável pelos transportes urbanos de Paris, 23 de março promete ser bem mais conturbado que dia 16, quando aconteceu a última mobilização.
Em um comunicado divulgado esta terça-feira, a RATP “prevê um tráfego muito perturbado”, em Paris. Mas o trânsito estará “quase normal” nas redes de ônibus e bondes. A empresa pede a “todos os viajantes que tenham a possibilidade de privilegiar o teletrabalho ou de adiar seus deslocamentos” que o façam.
A Direção-Geral de Aviação Civil (DGAC) pediu às companhias aéreas que cancelem 30% de seus voos em Paris-Orly e 20% em outros aeroportos, principalmente domésticos, devido à greve dos controladores de tráfego aéreo.
Professores mobilizados
Entre 40 e 50% dos professores primários também devem parar, de acordo com o Snuipp-FSU, principal sindicato de creches e escolas primárias.
O sindicato espera fortes mobilizações em departamentos como Bouches-du-Rhône, Pireneus-Orientais ou Haute-Vienne com mais de 50% dos grevistas, Seine-Saint-Denis (55%) ou mesmo Paris com 70% dos professores em greve.
“Torna-se um verdadeiro sacrifício para os professores fazer greve dado o contexto salarial da escola”, comentou a secretária-geral, Guislaine David, se referindo ao fato que os dias de greve são abatidos na folha de pagamento dos docentes.
São prometidos novos cortes de energia nesta quinta. Desde o início do conflito social, os cortes de energia sobretudo nas sedes parlamentares e nas casas dos dirigentes políticos se multiplicaram ao longo das semanas. Os sindicatos do setor de energia prometem novos cortes “orientados” para o “capital”, “aqueles que nos governam” e “aqueles que são pela lei”.
A greve dos funcionários de limpeza urbana vai continuar na capital até pelo menos segunda-feira (27), segundo a CGT. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, criou uma unidade de crise à medida que o lixo se acumula.
“Desrespeito aos franceses”
Nesta quarta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron deu uma entrevista aos dois principais canais de tevê da França, onde defendeu a reforma, dizendo que era “necessária” e “justa”.
As declarações do chefe de Estado causaram revolta nos líderes sindicais e de partidos de esquerda contrários à reforma, que acusam Macron de “desrespeito aos franceses” e de “viver fora da realidade”.