Boletim de Conjuntura Internacional

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 4]

 

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Opera Mundi, 25 de abril de 2024.

 

 

A grande estratégia do Estado sionista tem sido metamorfosear seu projeto político doméstico em uma grande convulsão regional, o que explica a crise com o Irã

 

Em 13 de abril de 2024, o Irã atacou massivamente o Estado sionista em uma retaliação ao bombardeamento com vítimas à sua sede consular em Damasco. O ataque produziu efeitos simbólicos, uma espécie de “efeito demonstração” (por não ter atingido propositadamente áreas sensíveis entre a população civil e a atividade econômica), alcançando substantivamente apenas a base aérea no deserto de Neguev, instalação de onde partiram os aviões F-35 que atacaram a sede consular iraniana. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 3]

 

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Opera Mundi, 30 de março de 2024.

 

 

Pela primeira vez os sionistas perderam o controle da narrativa do que ocorre na Palestina, com a massiva empatia pela causa palestina a nível global

 

1948: o começo do fim?

Desde que começamos a tratar do genocídio que ocorre na Faixa de Gaza aqui neste Opera Mundi, em dezembro de 2023, estivemos preocupados em discernir a estrutura do Estado sionista buscando a compreensão materialista do que lá se passa, “a análise concreta da realidade concreta”. Isso porque, cercado de fetiches e narrativas forjadas numa correlação de forças amplamente desfavorável, a questão palestina tem-se apresentado para o grande público de forma fantasiosa e distorcida. Esta percepção absolutamente idealizada é alimentada pelos sionistas e aliados desde a “independência” do Estado de Israel em 1948, colocando este feito no interior de uma cobertura dourada de legitimidade jurídica, já que outorgada pela Organização das Nações Unidas através da Resolução no. 181, de 29 de novembro de 1947. A reação adversa dos países árabes, contrários a esta resolução – e depois a derrota na guerra de 1948 –, tornou-se em uma espécie de “cláusula pétrea” de que a situação do povo palestino foi produzida pelos erros do mundo árabe, quando não dos próprios palestinos. Mas atentemo-nos para uma indicação pouco considerada e que, certamente, é o início da mistificação de todos os fatos posteriores: a decisão da ONU que foi aprovada impunha à Palestina um “Plano de Partição com União Econômica”. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 2]

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro

A pretensa superioridade tecnológica e democrática de Israel foi viabilizada pela inserção mais que privilegiada da economia sionista na economia mundial

 

Na Palestina o fim da 1a. Intifada (1987-1993) marcou o início do “ajuste” local com a correlação de forças delineada no final da década de setenta, incorporando a agenda do islã político no interior da sua vida social; esta corrente político-religiosa diferia das forças já existentes por retomar uma visão belicosa para a solução do problema palestino, além da inspiração da religião como inspiração na condução da ação política. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 1]

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro, novembro 2023.

Foto: Dois meninos foram retirados dos escombros depois que aviões de guerra israelenses atacaram a Praça Yarmouk, na Rua Jalaa, Cidade de Gaza, em 25 de outubro de 2023. Eles gritaram: ‘Obrigado, defesa civil. Nós te amamos.’ [Abdelhakim Abu Riash/Al Jazeera]

 

O sionismo é um sistema. Introdução à uma análise estruturante da invasão da Faixa de Gaza a partir de outubro de 2023

Durante a guerra de independência da Argélia, iniciada em 1954, com a dominação colonial francesa em colapso, surgiu na metrópole a percepção de que o problema da rebelião (que levaria a colônia do norte da África à independência em 1962) se devia aos maus colonos enviados pela França.  Como ali a presença de moradores colonizadores era a maior do mundo ásio-africano (1 milhão de europeus em meio à 9 milhões de habitantes locais) esta desproporção  parecia conter algum sentido.  Para contestá-la Jean-Paul Sartre[1], vibrante militante anticolonial, revisou este preceito em texto lapidar sobre o assunto, demonstrando que a rebelião dos colonizados não era contra uma má gestão por parte do colonizador.  Pelo contrário, a colonização foi definida como um sistema, e era justamente este que passava por uma crise terminal devido à nova correlação de forças do pós-guerra, demarcada pela Guerra Fria e, no plano interno europeu, pela construção do Estado de Bem Estar.  Assim, para o filósofo francês, era incompatível a existência da democracia e dos direitos sociais nas metrópoles com a prática de métodos fascistas nas colônias.  Sem sombra de dúvidas foi a declaração de guerra pela Frente Nacional de Libertação argelina que levou o sistema colonial à contradição máxima, corroendo os alicerces da dominação colonial. leia mais

Todo apoio à resistência palestina!

Cem Flores – 11.10.2023
Foto: Palestinos da Faixa de Gaza celebram a derrubada do cerco israelense em 7 de outubro, dia de outras inúmeras ações de militares contra a ocupação.

 

No dia 7 de outubro, diversas forças de resistência palestinas realizaram ataques militares com milhares de foguetes e rompimento de cercos contra colonos ilegais e contra militares da ocupação israelense. Essa foi a maior ação palestina em muitas décadas, demonstrando que a resistência continua viva, apesar de toda brutal repressão da ocupação israelense apoiada pelo imperialismo ianque.

A cobertura dos grandes monopólios midiáticos, mais uma vez, busca taxar a justa resistência do povo palestino contra a expansão colonial de Israel como “terrorista”. Ao mesmo tempo em que acobertam todos os crimes humanitários diários de Israel contra os/as palestinos/as. Assim como fazem quando qualquer povo oprimido se rebela contra a dominação! Reforçam tal discurso do regime israelense, não só as lideranças reacionárias, de direita, em todo o mundo, como também vários governos e organizações ditas de “esquerda”, como é o exemplo de Lula e do PT no Brasil. leia mais