Maslowa Islanowa, Presente!!

Nota do Laboratório de História e Memória da Esquerda e das Lutas Sociais/UEFS

 

SOBRE MASLOWA, SOBRE A LUTA

Todos os que passaram pela UEFS desde 1986 até a primeira década deste século saberão apontar muitas marcas deixadas pela sua trajetória. O movimento docente, mais do que qualquer outro, foi o seu espaço. Eram dela a voz poderosa e o argumento cristalino com que, tantas vezes, foram apresentadas e defendidas em assembleias de professores propostas de pautas para a mobilização, de paralisações e greves, de atividades e de posicionamentos públicos, de apoio a lutas de outros e de repúdio a arbítrios e traições. De suas mãos saíram textos que traduziram necessidades em reivindicações, afirmaram e defenderam princípios, formularam e sustentaram propostas e projetos, expressaram e fundamentaram críticas. Aquelas mesmas mãos poderiam ser vistas, ao fim de uma cansativa reunião e quando a maioria já tinha ido embora, limpando a mesa cheia de copos de cafezinho usados e papeis riscados.

Entretanto, estar no movimento docente nunca foi como estar numa redoma. Maslowa veio do movimento estudantil, da militância em organização clandestina de esquerda e da luta contra a ditadura militar nos últimos anos 70. Empenhou-se na criação do PT e da CUT. Ser professora universitária era, essencialmente, ser trabalhadora. Nos grandes combates da classe trabalhadora brasileira pelo SUS, na Constituinte, nas greves gerais, contra a perda de direitos tivemos Maslowa presente. A bandeira da universidade pública gratuita, autônoma, democrática e socialmente referenciada era fincada por ela em terreno classista. Quando explodiram as crises que levaram à reorganização da esquerda e dos movimentos sociais no Brasil ela, que não abandonou as convicções revolucionárias que a formaram, decidiu se afastar de organizações que tinha ajudado a fundar e empenhou-se na construção de alternativas. Maslowa sabia que, escolhendo a militância, escolhia conviver com divergências e conflitos. Defendia suas posições com muita firmeza, era uma debatedora coerente, franca e honesta. Quando apareceram contradições entre seus sentimentos de afeto e os princípios políticos que lhes eram mais caros, teve que sofrer com desgaste em relações pessoais para manter as posições que a vinculavam a projetos coletivos com os quais estava comprometida.

A imagem pública de dureza encobria a amiga terna, carinhosa e a professora gentil. Foi professora de Sociologia da Saúde e pertencia aos quadros do Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Uefs. Participou da construção e da consolidação do grupo Mais Uefs, que surgiu com um projeto para a Universidade com base em princípios provenientes das lutas pela universidade pública. Nós, no LABELU, recebemos dela, em doação, documentos históricos originais da Organização Comunista Marxista-Leninista Política Operária (OCML-PO), importante grupo brasileiro de esquerda no qual ela atuou. Incorporada a nosso acervo, esta documentação subsidia uma pesquisa sobre a história da Política Operária que já produziu resultados significativos publicados além de trabalhos de mestrado e doutorado em História.

Uma trajetória como a de Maslowa, quando se interrompe, abre um vazio. Sua memória e o legado que sua militância ajudou a construir, no entanto, são um rico patrimônio. Nós que honramos sua memória sabemos, porém, que a única homenagem que a própria Maslowa aceitaria é o compromisso de que seguiremos na luta.

MASLOWA ISLANOWA, PRESENTE!!
Feira de Santana, São João de 2021.
Laboratório de História e Memória da Esquerda e das Lutas Sociais/UEFS

 

Faça seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *