Organização dos acervos e divulgação ao público

Introdução

Há cerca de quarenta e oito anos atrás, entre 16 e 19 de janeiro de 1961, um grupo de jovens militantes revolucionários reuniu-se em Jundiaí-SP para fundar a Organização Revolucionária Marxista – Política Operária. O ato foi o coroamento de uma série de debates e articulações entre quadros políticos e intelectuais que militavam em pequenas organizações políticas ou se articulavam em torno de publicações marxistas, a saber: o grupo do Rio de Janeiro, oriundo da Juventude do Partido Socialista Brasileiro, o grupo de São Paulo, de inspiração luxemburguista e a Mocidade Trabalhista de Minas
Gerais.[1]

Um conjunto de idéias básicas unia o grupo:
• A condenação à política de colaboração de classe então comandada pelo PCB, PSB e PTB;
• A defesa do caráter socialista de qualquer futura revolução no Brasil;
• O reconhecimento do papel da classe operária como força aglutinadora de uma frente dos trabalhadores da cidade e do campo;
• A defesa da construção de um partido representativo da classe operária, em oposição aos partidos burgueses e reformistas;
• Crítica às deformações burocráticas dos Estados do então campo socialista, mas
solidariedade a esses países em seus conflitos com o sistema imperialista.

Tais idéias constituem uma elaboração marxista brasileira que trazem a forte contribuição de Erico Sachs (Eurico Mendes, Ernesto Martins), fruto de sua militância na Oposição no Partido Comunista Alemão e particularmente da influência de August Thalheimer no período entre 1938 e 1948.

A influência da nova organização na esquerda brasileira, em especial na que seria futuramente chamada de Esquerda Revolucionária, foi profunda. Pode-se dizer que a POLOP influenciou as lutas internas que envolveram o PCB nos anos que se seguiram ao golpe militar de 1964. Várias organizações políticas então formadas na fase da ditadura militar mantiveram algum tipo de relacionamento ou mesmo foram diretamente originadas das fileiras da POLOP, cujas análises e propaganda política atuaram como um pólo irradiador de proposições revolucionárias.

Mas as condições gerais do período, marcadas pela consolidação da ditadura militar, pela
depressão política do movimento operário e pela prolongada clandestinidade – aliadas à onda voluntarista que terminou prevalecendo na Esquerda Revolucionária – selaram o destino da Organização. O cerco repressivo, as prisões e o exílio provocaram a desintegração do seu núcleo dirigente ao longo dos anos 70 e fracionamento dos grupos remanescentes.

Com a anistia e o retorno do exterior dos quadros exilados, verifica-se um movimento no
sentido de reaglutinação da Organização. Tarde demais, pois o contingente de militantes remanescentes estava demasiadamente reduzido e distante do centro dinâmico das lutas sociais brasileiras, na maré montante das greves, da fundação do PT e da gestação da CUT. A POLOP reconheceu a importância política própria do PT, mas ao mesmo tempo entendeu os seus limites; por isso, aderiu ao novo Partido, mas ao mesmo tempo tentou manter-se como organização autônoma. Sem êxito nesse último projeto, extinguiu-se lentamente no decorrer da primeira metade dos anos 80.

A historiografia

Alguns autores têm reconhecido o caráter peculiar da POLOP e alertado para a inovação que ela representou no campo das organizações de esquerda no Brasil a partir dos anos 60. Marcelo Badaró Matos[2] apontou a influência das elaborações teóricas da POLOP a respeito das relações da burguesia nacional com o imperialismo sobre uma importante geração de intelectuais brasileiros vinculados ao que se convencionou chamar de “teoria da dependência”. Vários ex-militantes da POLOP tornaram-se autores de referência no debate nacional e internacional de temas ligados ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo e ao imperialismo, à situação da América Latina ou à emergência de movimentos sociais: Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Moniz Bandeira, Vânia Bambirra, Michael Löwy, Eder Sader e Emir Sader são, talvez, os mais conhecidos.

O caráter inovador do marxismo da POLOP, no contexto brasileiro dos anos 1960 e 70 – que se apresentava como uma alternativa partidária ao PCB – foi ressaltado por Aarão Reis Filho e Jair de Sá, que situaram a organização como o ponto de partida de um ramo novo na história das esquerdas no Brasil[3].

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