8 de Março, a história do dia da mulher.
por Ernesto Germano
Durante muitos anos a versão mais usada para a origem das comemorações do Dia Internacional da Mulher – 8 de Março – falava de um incêndio provocado pelos patrões. Eis a história:
“No Dia 8 de Março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, na cidade de Nova Iorque (EUA), fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com muita violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica que foi incendiada por ordem do próprio dono. Como resultado, 129 tecelãs morreram carbonizadas!”
Esta história é real e já foram encontradas fotografias em antigos jornais estadunidenses sobre o tal incêndio, mas a data (8 de Março) não se confirma.
Na verdade, o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora foi proposto pela revolucionária alemã Clara Zetkin em 1910, no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagen, Dinamarca. Clara Zetkin propôs, neste Congresso, uma resolução para instaurar oficialmente um dia internacional das mulheres. Nessa resolução, não se faz nenhuma alusão ao dia 8 de março. A partir daí as comemorações começaram a ter um caráter internacional, expandindo-se pela Europa, a partir da organização e iniciativa das mulheres socialistas. O dia fica, contudo, ainda indefinido. A escolha do dia ficava a cargo de cada delegação, de cada país, segundo critérios próprios. A resolução aprovada foi publicada logo em seguida no jornal “A Igualdade” de 29 de agosto. “As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres. É preciso discutir esta proposta, ligando-a à questão mais ampla das mulheres, numa perspectiva socialista”. A outra proposta, de comemorar o Dia da Mulher junto à data já tradicional da causa operária, o 1º de Maio – defendida por Clara e várias outras delegadas –, fora derrotada. A decisão é que o Dia das Mulheres deveria ser comemorado num dia específico.
Atualmente, a versão mais convincente para a escolha do dia 8 de Março nos leva para a história da Revolução Russa de 1917. O calendário russo juliano registrava o dia 23 de Fevereiro – equivalente ao 8 de Março, em nosso calendário ocidental gregoriano – quando dezenas de milhares de mulheres operárias de Petrogrado lançaram-se em greve espontânea contra a guerra imperialista e, desta forma, deram início à Revolução Russa, em 1917. Não é por acaso que Alexandra Kollontai – proeminente líder revolucionária russa – escreve: “O dia das operárias, 8 de março de 1917, foi uma data memorável na História (…) as mulheres russas levantaram a tocha revolucionária. A Revolução de Fevereiro acabara de começar”.
O czar Nicolau II renunciou ao poder e a Rússia adotou um regime republicano. “As mulheres tiveram um peso muito grande nas mobilizações de fevereiro. Há registros de uma grande greve coordenada pelas operárias do setor têxtil que teria iniciado essas agitações; elas pediam o fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial, a volta dos militares para suas casas, e pão”.
Alguns dos líderes da revolução fazem referência direta ao fato em seus textos. “O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 foi uma data memorável na história (…) A Revolução de fevereiro começou nesse dia”, escreveu a dirigente feminista Alexandra Kollontai.
A indicação de ser criado um Dia Internacional da Mulher Trabalhadora completa 114 anos. Como vimos, não havia uma data específica quando foi criado, mas a história comprovou o papel das mulheres e a importância da sua participação.
Como diria Vandré, naquela famosa música: “A certeza na frente, a história na mão.”
Para ler mais sobre o 8 de Março, recomendo:
http://www.sof.org.br/inst_area_atua_fem_texto_8marco.htm