POLOP
APRESENTAÇÃO DO ACERVO POLÍTICA OPERÁRIA (POLOP)
O Acervo do Centro de Estudos Victor Meyer – CVM está constituído pelos documentos da Política Operária (POLOP), das Memórias do Movimento Operário e das Lutas dos Trabalhadores do Campo e dos Debates realizados historicamente no âmbito do marxismo militante.
O destaque do Acervo é a documentação produzida pela POLOP ao longo das distantes fases de uma trajetória que remonta às primeiras formulações teóricas e políticas em 1958 até o final desta organização da esquerda revolucionária na década de 1980, envolvendo diferentes denominações, a saber, Organização Revolucionária Marxista Política Operária – ORM-PO (1961-1968), Partido Operário Comunista – POC (1968-1970) e Organização de Combate Marxista Leninista Política Operária – OCML-PO (1970-1986).
A ORM-PO foi organizada por um grupo de jovens militantes revolucionários oriundos do Rio de Janeiro (Juventude do Partido Socialista Brasileiro), Minas Gerais (Mocidade Trabalhista), São Paulo (Liga Socialista Independente) e Bahia (um grupo em Salvador e outro em Ilhéus) reunidos em Jundiaí, SP, entre 16 e 19 de janeiro de 1961. A condenação à política de colaboração de classes à época comandada pelo PCB, PSB e PTB; a defesa do caráter socialista de qualquer futura revolução; o reconhecimento do papel da classe operária como força aglutinadora de uma frente dos trabalhadores da cidade e do campo; e a construção de um partido representativo da classe operária, em oposição aos partidos burgueses e reformistas – tal foi o ideário que uniu o grupo nesta iniciativa e deixou marcas perenes na trajetória da Organização.
A elaboração de um programa e a criação de uma organização com perspectiva revolucionária implicavam a retomada da teoria marxista, praticamente soterrada pelo estalinismo que dominou a esquerda no mundo até meados da década de 1950.
A POLOP procurou incorporar conscientemente a tradição marxista da aplicação da teoria à realidade – a partir da análise concreta da realidade concreta – retomando as formulações de Marx e de Engels e dos Partidos Comunistas no início do século XX e dos quatro primeiros Congressos da Terceira Internacional (Internacional Comunista), aqueles que contaram com a participação de Lênin. Essa retomada foi uma iniciativa de Érico Sachs, um dos fundadores e o principal dirigente da POLOP.
A influência da nova organização na esquerda brasileira, em especial na chamada Esquerda Revolucionária, foi profunda. Pode-se dizer que a POLOP catalisou as lutas internas que envolveram o PCB nos anos que se seguiram ao golpe militar de 1964. Todas as organizações políticas então formadas na fase da ditadura militar mantiveram algum tido de relacionamento ou mesmo foram diretamente originadas das fileiras da POLOP, cujas análises e propaganda política atuaram como um polo irradiador de proposições revolucionárias.
O caráter expansivo da POLOP num contexto tão especial da história das lutas de classes no Brasil, sustentado apesar do traumático teste histórico representado pelo golpe militar de 1964, tem sua expressão máxima na elaboração de um documento básico, o Programa Socialista para o Brasil, apoiado sobre um conjunto de textos de fundamentação que configurariam um método de análise, um ideário articulado e uma estratégia de luta.
É dentro desses pressupostos que estamos nos propondo a reconstituir a memória da prática da POLOP, desde a sua fundação. Recuperar os acervos de documentos elaborados ao longo da sua história, disponibilizá-los em arquivos de acesso público, publicar na forma de livro os documentos principais, resgatar o papel que a Organização desempenhou nas lutas sociais do País – eis as tarefas colocadas.
O Centro de Estudos Victor Meyer – CVM é uma entidade parceira do projeto “Memórias Reveladas” do Arquivo Nacional, Ministério da Justiça. Parte da documentação física da POLOP encontra-se disponível no Arquivo Nacional e no Arquivo do Movimento Operário do Rio de Janeiro – AMORJ, núcleo de pesquisa e documentação, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (IFCS/UFRJ). Outra parte, sob o formato digital, está guardada pelo Centro de Documentação e Memória da UNESP – CEDEM, e no Laboratório de História e Memória da Esquerda e das Lutas Sociais – LABELU, da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Sobre o Acervo Política Operária no CEDEM
A documentação constante no acervo do Centro de Estudos Victor Meyer é a reprodução do material da organização Política Operária (POLOP), doado em 2005 ao Centro de Documentação e Memória da UNESP – CEDEM, em formato digital (*pdf, *jpg).
Na fase anterior ao golpe de 1964 não existia um órgão encarregado de organizar o acervo. A formação de tal órgão – que tinha também outras atribuições, como as da imprensa e da segurança – só ocorreu após o IV Congresso (1967). A organização do acervo foi interrompida em agosto-setembro de 1971 em decorrência da prisão pelo DOI-CODI, de todos os membros do órgão, mas se constituiu, de fato, em decorrência da prisão pelo DOI-CODI, em agosto-setembro de 1971, de todos os membros do setor.
O arquivo documental foi preservado, guardado em casa de colaboradores de confiança e sem atividade militante. A microfilmagem aconteceu no final da década de 1970 e os originais impressos foram destruídos.
O arquivo microfilmado foi organizado na sequência cronológica, procurando-se separar o material que era de ampla circulação do que fazia parte da dinâmica interna da POLOP, assim como do que pertencia a outras Organizações. Realizado na clandestinidade por pessoas conhecidas pelos órgãos de repressão, o trabalho foi feito rapidamente por militantes que tinham domínio dos processos de revelação e fixação de filmes, usando máquina fotográfica comum com motor-drive, e tubos de PVC adaptados como tanques de revelação e fixação.
Constituído por 85 rolos de microfilme, totalizando 18.558 páginas, e 13 caixas de arquivo com documentos textuais, o arquivo da POLOP foi doado por Ceici Kameyama ao CEDEM/UNESP em 2005.
O acervo POLOP é composto por documentos da organização no período entre 1956 e 1980, compreendendo documentos básicos, Informes, relatórios, tribunas de debates, jornais e revistas “Política Operária” e “Marxismo Militante”, materiais para a formação de quadros, para o trabalho em fábricas e estudantil, inclusive imprensa, documentos da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo e de várias organizações de esquerda (PCB, MR-8, VAR- Palmares, ALN).
O CEDEM preservou a classificação original e digitalizou uma parte dos microfilmes no formato * pdf.
Coletivo do CVM
Nota: recomendamos a leitura do texto de Victor A. Meyer, Frágua inovadora: o tormentoso percurso da POLOP.