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O colapso do sionismo

Ilan Pappé
 traduzido de Sidecar, New Left Review – 21/06/2024

 


Apresentação do CVM

Ilan Pappé é professor de História da Universidade de Exeter (Reino Unido) e um dos “novos historiadores” israelenses críticos ao sionismo e ao Estado de Israel.

O artigo abaixo – “O Colapso do Sionismo” – foi traduzido e publicado em diversos sites de esquerda, como os da New Left Review, Seniora e Arbeiterpolitik. Sua importância decorre do fato de mostrar que, apesar das recentes demonstrações de capacidade militar e de inteligência, o estado e a sociedade israelenses apresentam sinais de fraqueza e fissuras que colocam em xeque a sua existência no médio e longo prazos.

Alertando que esses sinais de colapso podem desencadear “uma força feroz” do sionismo na tentativa de contê-lo, Pappé também aponta como alternativa a criação de um estado único dentro de uma Palestina libertada e descolonizada, onde cidadãos de diferentes crenças, origens e etnias possam coexistir.  

Coletivo do CVM

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O ataque do Hamas em 7 de outubro pode ser comparado a um terremoto que atinge um prédio velho. As rachaduras já estavam começando a aparecer, mas agora são visíveis até nas próprias fundações. Mais de 120 anos desde a sua criação, poderia o projeto sionista na Palestina – a ideia de impor um Estado judeu a um país árabe, muçulmano e do Oriente Médio – estar enfrentando a perspectiva de colapso? Historicamente, uma infinidade de fatores pode fazer com que um estado sucumba. Pode resultar de ataques constantes de países vizinhos ou de uma guerra civil crônica. Pode acompanhar o colapso das instituições públicas, que se tornam incapazes de prestar serviços aos cidadãos. Muitas vezes, começa como um lento processo de desintegração que ganha impulso e, em seguida, em um curto período de tempo, derruba estruturas que antes pareciam sólidas e firmes. leia mais

Gaza, ano zero: as raízes do Holocausto palestino [parte 1]

Bernardo Kocher
Prof.  História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro, novembro 2023.

Foto: Dois meninos foram retirados dos escombros depois que aviões de guerra israelenses atacaram a Praça Yarmouk, na Rua Jalaa, Cidade de Gaza, em 25 de outubro de 2023. Eles gritaram: ‘Obrigado, defesa civil. Nós te amamos.’ [Abdelhakim Abu Riash/Al Jazeera]

 

O sionismo é um sistema. Introdução à uma análise estruturante da invasão da Faixa de Gaza a partir de outubro de 2023

Durante a guerra de independência da Argélia, iniciada em 1954, com a dominação colonial francesa em colapso, surgiu na metrópole a percepção de que o problema da rebelião (que levaria a colônia do norte da África à independência em 1962) se devia aos maus colonos enviados pela França.  Como ali a presença de moradores colonizadores era a maior do mundo ásio-africano (1 milhão de europeus em meio à 9 milhões de habitantes locais) esta desproporção  parecia conter algum sentido.  Para contestá-la Jean-Paul Sartre[1], vibrante militante anticolonial, revisou este preceito em texto lapidar sobre o assunto, demonstrando que a rebelião dos colonizados não era contra uma má gestão por parte do colonizador.  Pelo contrário, a colonização foi definida como um sistema, e era justamente este que passava por uma crise terminal devido à nova correlação de forças do pós-guerra, demarcada pela Guerra Fria e, no plano interno europeu, pela construção do Estado de Bem Estar.  Assim, para o filósofo francês, era incompatível a existência da democracia e dos direitos sociais nas metrópoles com a prática de métodos fascistas nas colônias.  Sem sombra de dúvidas foi a declaração de guerra pela Frente Nacional de Libertação argelina que levou o sistema colonial à contradição máxima, corroendo os alicerces da dominação colonial. leia mais